DOS QUE ME ANTECEDERAM

Dando a minha interpretação, gostaria de ter escrito estes versos: (...) “Verde que te quero verde. /Verde vento. Verdes ramas. /O barco vai sobre o mar / e o cavalo na montanha. / com a sombra pela cintura ela sonha na varanda, /verde carne, tranças verdes, / com olhos de fria prata. / Verde que te quero verde que te quero verde. Por sob a lua gitana, / as coisas estão mirando-a / e ela não pode mirá-las” (...)

Só que o Frederico Garcia Lorca escreveu antes de mim. Pobre Garcia Lorca, morto aos 38 anos de idade, não por que fosse um revolucionário, defendia apenas a República na época em que Franco deu inicio a guerra civil espanhola, provavelmente por sua homossexualidade, já que foi preso por um deputado católico direitista, que o acusou de ser mais perigoso com a caneta de que os outros com o revolver. Recebeu um tiro na nuca. Assim a Espanha perdeu um grande poeta, um grande teatrólogo.

Também gostaria de ter escrito estes versos: (...) “ Um inútil. Mas é tão justo sê-lo! / Pudesse a gente desprezar os outros / E, ainda que co’os cotovelos rotos, / Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!”(...) E MAIS ESTES : (...) Tive um passado? Sem dúvida... / Tenho um presente? Sem dúvida... / Terei um futuro? Sem dúvida... / A vida que pare de aqui a pouco... / Mas eu, eu... Eu sou eu, / Eu fico eu, / Eu”.

Este é o Fernando Pessoa, que por ser um poeta tão singular, recriou-se plural no recurso à heterônima, isto é, no artifício de multiplicar-se em outros poetas, ele foi Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos e se não tivesse morrido aos 43 anos de idade de cirrose hepática, (30.11.1935) teria sido conhecido também por Bernardo Soares, Barão de Teive, Alexander Search, I.I. Crosse e Antônio Mora.

Agora indago, além de mim, quem mais gostaria de escrever estes versos:

POR QUÊ?

DE REPENTE

SEM DESFECHO

UM ADEUS

DE REPENTE

O DESENCANTO

A INQUIETAÇÃO

A ANGÚSTIA

A INDAGAÇÃO

POR QUÊ?!

POR QUÊ?!

POR QUÊ?!

Estes são meus, que não sou lá essas coisas todas, apenas eu. Eu e a minha circunstância, que nem o seu Ortega.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 20/03/2009
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