HÉRCULES IS ALIVE

Era mania assistir filmes de Hércules. Quando não tinha, ia de Sansão, no cinema esses heróis eram bastante parecidos. Ótimas aventuras, lutas, duelos, muita adrenalina da boa. Os meninos amanheciam o dia falando sobre os filmes e cada um queria ser mais forte que o outro. Faziam muque, se esforçavam e achavam que as meninas não resistiriam. As meninas preferiam filmes com rainhas e princesas, histórias de amor.

Era forte o debate entre feminino e masculino para decidir algo impossível: quem ganharia o Oscar. À noite as discussões prosseguiam sem resultados satisfatórios. Eles levavam as madrugadas sonhando com o herói grego e elas, com as princesas e os castelos.

Pela manhã tinha quem ficasse brincando na calçada só para esperar amigos e continuar a teima. Essa contenda perdeu o espaço para uma novidade.

Vinha lá no cocoruto da ladeira, logo cedinho, algo se movendo e trepidando. O que seria aquilo? Ainda não era possível ver bem. E a coisa descendo, descendo mais, até dava para se saber que era uma carroça.

A carroça se aproximando. E o que era aquilo, santo Deus? Alguém conduzindo a carroça que aumentava a velocidade por causa da descida, em pé? E o que era aquilo agitando desesperadamente em uma das mãos? A outra mão segurava os arreios.

Já vinha mais perto e dava para ver que era um rapaz baixo e troncudo. Estava com as pernas abertas e firme sobre a carroça, chicoteando o animal. Gritava muito o baixinho. Parecia o grito de Tarzan. Filmes muito bons apreciados por meninos e meninas eram os de Tarzan, o rei das selvas. Seria Tarzan? Enfim, Tarzan existe e vem ali!

A carroça desembestada se aproximava E a gente pensando que o rapaz cairia a qualquer instante, mas parecia agora se agigantar aos nossos olhos. Os gritos se repetiam mais definidos a cada vez. Uma cena formidável.

Estaria nu? Não, era somente da cintura para cima, o peito marombado. Então era o Mister Universo. Nada. Usava uma tanga parecida com a de Tarzan e um cinto largo com uma fivela redonda e bem lustrada, brilhando ao sol da manhã.

As coxas bem definidas, as batatas das pernas duras, os pés fincados na tábua da carroça. E tome no cavalo. Era Hércules, pessoalmente. Um carroceiro, impressionado com o valente grego, descendo a ladeira da rua de uma pequena capital nordestina do Brasil.