Entre Folhas e Flores

Hoje ao caminho do trabalho deparei-me mais uma vez com aquela velha senhora e sua arte cotidiana de varrer sua porta sempre tão cheia de folhas, reparei atentamente no seu vestido também velho, seus chinelos e passos já tão gastos pela ação inexorável do tempo, seus cabelos estavam, como de costume, envoltos em um lenço de singular colorido.

Perguntei-me quantas portas já terá varrido em sua longa vida, naquele lugarejo tão pequeno, tão curto em esperança talvez fosse condenada a varrer somente aquela porta.

O que mais impressionava era, pois, a delicadeza sem enfados com a qual realizava sua arte tão repetitiva e assim, por não mais suportar aquela curiosidade mais feminista que feminina, perguntei-lhe se não seria o caso de cortar à árvore responsável pela sugeria diária, já que haviam tantas outras no quintal, ela no entanto com seu jeito humano de mulher experiente, respondeu-me singelamente que a tal árvore uma vez ou outra, dava umas flores lindas cuja brancura fazia da calçada inteira um lindo tapete branco, acrescentou ainda que o perfume das flores era incomparável e ainda ficava por algum tempo depois da primavera.

Perguntei-me então, quantos de nós tem como aquela senhora a coragem de apanhar suas folhas cotidianas até que venham as flores.

Quantas vezes preferimos cortar nossas árvores e encarar uma vida sem flores como preço justo por um quintal sem folhas.

Muitas são as ocasiões nas quais podamos para sempre nossas árvores por nos recusarmos a varrer as mesmas folhas ou os mesmos erros que teimam em se repetir ao longo dos tempos.

Esquecemos assim, que tal qual à árvore que derruba folhas secas e também dá flores e frutos, as pessoas que nos aborrecem com seus erros constantes podem nos trazer alegrias verdadeiras e felicidades douradoras.

A escolha depende unicamente de nós... Varrer ou cortar.