A ARITMÉTICA DO PODER

A aritmética de quem decide as coisas do mundo é fria e calculista e pra ela cigarras têm o exato valor de mercado avaliado por quem só se interessa por elas e seus valores se isso puder representar algum tipo de compensação finaceira. Para tais senhores, os humanos são mercadoria como qualquer outra. Sob esse raciocínio foi que um formiga chefe de Estado cortou a ajuda a programas de prevenção da Aids nos países pobres como os africanos bem como ajudas humanitárias em geral, levando ao sofrimento e morte milhares de criaturas e gastou bilhôes com um guerra genocida. Formigas têm incompatibilidade irreversível com cigarras.

Os ricos representantes de um povo que ganhou território, temdo os donos da terra deixado tudo de seu pra ir se espalhar para mais longe, reinvindicam a todo momento o não esquecimento de um genocídio fartamente divulgado por décadas, o chamado holocausto, mas verdade seja dita, a grande maioria dos sacrificados foram os seus irmãos de países pobres da Europa menos privilegiada como a Polônia, foram os ciganos, gente considerada de pouca valia no mercado das formigas, além daqueles que não se enquadravam no fundamentalismo que condena à morte as consideradas aberrações, como gays, loucos em geral e enfim, tudo que foge ao selo de qualidade compatível com o mercado produtivo. Além disso, guerras nada mais pretenderam e pretendem do que enriquecer alguns privilegiados.

Dentro dessa óptica, sabe-se por exemplo, que num país onde muita gente morreu fazendo resistência ao invasor nazista, eminentes"citoyens" negociaram e entregaram seus irmãos para obter vantagens econômicas aliando-se ao inimigo na Segunda Grande Guerra e judeus ricos enriqueceram ainda mais com a guerra suja que sacrificou milhares de "irmãos" nos campos de concentração. Da mesma forma, quem duvida de que o Onze de Setembro não foi algo orquestrado para justificar um ataque ao "inimigo" árabe com o apoio da população ludibriada?

Quando o governante assina um decreto de lei que corta verbas pra saúde, está condenando à morte muitas crianças que vão nascer. Verdade seja dita, estamos submetidos ao valor de mercado e num país como os EUA são feitos cálculos sobre o quanto vale a pena investir na área social por região, com a única preocupação de avaliar se o retorno compensa o investimento.

O nosso retrato mais expressivo como pessoas resume-se ao número do CPF, sem o qual você não existe. Se morremos no trânsito vamos integrar os dados da estatística com a nossa participação em zero vírgula um monte de algarismos. E mesmo no seio da família, muita gente não passa de um telespectador na sala, vendo o mundo passar nas imagens e não vendo o que está bem a seu lado. Somos o mercado consumidor e atento às novidades. Compramos pra gerar empregos que darão dinheiro para comprar novamente.

Decididamente, o oxigênio anda escasso pras cigarras. Sobrevivem ainda algumas autênticas longe da mídia golobalizada e atenta ao lucro. Lá nos confins de um Brasil que agoniza, ainda encontramos manifestações sem a interferência dos detergentes que tornam a música inodora e insípida, além de terrivelmente ruim. E está cada vez mais difícil respirar sem a ajuda dos "aparelhos" especialmente criados para nos ajudar a consumir mais e melhor. Então cá estou eu a utilizar-me da teconologia pra tentar convencer a mim e a vocês de que apesar de morar num formigueiro, apesar de amealhar umas coisinhas vida afora, de até ter cedido a algum apelo da bíblia sagrada dos novos tempos, eu ainda lembro de quem realmente sou e vez em quando subo numa ameixeira e solto o meu grito de cigarra, solitário e anônimo, mas ainda assim, legítimo e intransferível.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 19/03/2009
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