Valeu a pena – crônica sobre aprendizagem


Em janeiro publiquei uma frase aqui no site chamada “Ator e plateia” : ser escritor e leitor no Recanto das Letras é ser ator e plateia a um tempo só.”

Assim, sendo ator ou platéia, aprendemos.De uma forma ou de outra.Da mesma maneira que um ator precisa estudar a história do teatro, literatura dramática, movimento em cena, expressão corporal e vocal antes de pisar num palco, devemos saber o que escrevemos antes de publicarmos algum texto.A plateia e o leitor terão suas emoções provocadas e, de quebra, aprenderão algo novo, seja por meio do riso ou do choro.

Meu erro foi justamente não fazer isso com os haicais, ou seja, não ler a respeito antes da primeira publicação, há três meses, quando me cadastrei no Recanto das Letras.

Após ler um haicai aqui e outro acolá nesse site, julguei como fácil a tarefa de compô-los.Não é bem assim. “Não é difícil escrever haicais. Complicado é escrever haicais com valor literário.”

Ao postar os primeiros poemetos, as críticas apareceram. Justas, afinal contei as sílabas do haicai como gramaticais e não poéticas.Erro primário.

Houve quem dissesse sobre meus haicais: “para o brasileiro vale, mas para os japoneses...”

Mas também recebi ajudas valiosas de recantistas: Fabio Daflon, Mardilê Fabre, Fiore Carlos, Kathleen Lessa, Andra Valladares, Iraí Verdan, Benedita Azevedo.Alguns deles me auxiliaram com indicações de leitura; outros me pegaram pela mão, como quem pega na caneta junto com as mãos de uma criança e a ajuda a desenhar a forma da primeira letra.

Comecei a recontar as sílabas, reescrevê-los. Li teoria. E termos formam surgindo: kigo , jikô e nomes como Goga Masuda , Teruko Oda foram aparecendo nessas leituras.

Surtiu resultado.Soube ontem, por meio de um comentário da recantista Benedita Azevedo que um haicai que enviei a um jornal especializado em cultura nipônica selecionou meu poemeto para publicação.

“Parabéns Maria Fernanda! Seu haicai foi publicado no Zashi (Nippo-Brasil) Com data de 4 a 10 de março de 2009. Um fraterno abraço: Benedita Azevedo.

Benedita é fundadora e coordenadora do “Grêmio Haicai Águas de Março” e é autora de quatro livros sobre haicai. Recantista também.

O objetivo dessa crônica é ilustrar que o caminho é a dedicação.Não me sinto conhecedora de haicais.Estou muuuito longe disso.Mas sigo aprendendo.Se eu tivesse a oportunidade de escrever um livro, certamente seria de CONTOS, não de haicais.Digo isso para salientar que uma coisa pode levar a outra.Não é porque não tenho pretensões com um haicai, poderia seguir fazendo-os de qualquer jeito.

Essa experiência me abriu os olhos.A teoria é muitíssimo importante e achar que sabemos tudo, ou de espiar(como fiz) ou porque já estudamos há muitos anos sobre o assunto, é bobagem. Nós temos responsabilidade sobre o que escrevemos.De repente, podemos estar servindo de inspiração para alguém.E é por isso que é mais prudente que postemos textos verdadeiros.

Hoje penso em estudar mais sobre contos, me aprofundar em autores, objetivos e etc.Valeu a pena!

Segue o haicai selecionado pelo jornal:

Hora do recreio:
na lancheira da criança
pera portuguesa.

Abaixo, o link  do Jornal, onde meu texto está publicado:

http://www.nippobrasil.com.br/zashi/haicai.html
 
O kigo sugerido por eles, isto é, o tema para a composição do haicai foi “pera”.

                                             Pera

"Normalmente de cor amarela, a pera é suculenta e mais macia do que a maçã. Há algumas décadas, imigrantes japoneses introduziram a pera asiática no sul do Brasil, hoje conhecida como pera japonesa. Entretanto, ainda hoje, a maioria dos frutos disponíveis no mercado são importados da Argentina. Sendo um fruto outonal, seu cheiro e sabor podem despertar reminiscências da infância. Sua presença na fruteira, sobre a mesa de uma velha sala de jantar, mergulhada na penumbra, é um convite à introspecção e aos sentimentos nostálgicos
."

No meio da noite,
desperto, descasco uma pera,
falando sozinho.

Katô Shûson (1905–1993)


                                                            (Fonte: Jornal Nippo Brasil)



 
(Maria Fernandes Shu – 19 de março de 2009)
 
 
 
 
Maria SHU
Enviado por Maria SHU em 19/03/2009
Reeditado em 06/05/2009
Código do texto: T1494287
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.