Socorro, Tem um Louco nos Céus!
Em determinados momentos, mesmo que de olhos abertos e beliscando-me, sinto que estou dentro de um espaço surreal, como em um quadro de Salvador Dali ou em um conto de Kafka. Posso citar uma dúzia de situações nas quais me vi assim, geralmente associando-os a fatos que não se poderia imaginar nem mesmo sendo o roteirista mais fértil. Cito como primeiro fato o atentado contra as Torres Gêmeas; que paralisou o mundo em um suspiro seguido por ponto de interrogação: e agora?
Temíamos a reação do monstro americano e o desastre seguiu seu curso natural culminando com a invasão do Iraque, com o enforcamento bárbaro de Saddam e nenhuma arma química foi encontrada. A partir daí o mundo mudou, veio a bancarrota americana e o capitalismo dobrou os joelhos, mas o monstro ainda ruge – e continuará a rugir com seu poderoso arsenal nuclear – que Deus tenha piedade de nós!
Quando cheguei em casa naquela manhã, 11 de setembro, encerrara o expediente de trabalho. Demorei a crer no que acontecia. Minha esposa encontrava-se vidrada na tela eletrônica:
- É o Word Trade! Um avião o atingiu. – minha primeira reação foi duvidar. A segunda foi acreditar tratar-se de um pequeno avião.
- Não, foi um Boeing, disse ela.
- Mas como? – minha dúvida era lógica. Com toda a moderna tecnologia, que erro poderia ter causado aquele desastre?
Minha respiração ficou suspensa quando vi, ao vivo, a segunda torre ser atingida. O locutor não sabia o que se passava. Pensou também que devia ser uma reprise e só confirmou minutos depois que a outra torre fora atacada. Tínhamos uma certeza: era um atentado.
- Como, quem, por quê? – perguntas que lançamos no ar e que ainda gravitam universo afora.
A tragédia me fez pensar estar sonhando e acreditar que no minuto seguinte o despertador me livraria do pesadelo. O despertar não veio e caí na realidade, na pior delas.
Muito antes disso nossa cidade foi invadida por homens da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), vestidos em roupas plásticas amarelas, portando pequenos aparelhos e medindo a radiação em todo o lugar. Vi, estarrecido, um guindaste remover um ponto de ônibus inteiro em local de grande circulação. O brilho azul do Césio 137 aterrorizou toda uma geração e deixou marcas que cirurgia estética alguma poderá apagar.
Na semana passada, resguardadas as proporções, meu irmão veio com um alerta:
- Você viu o louco tirando rasante com um avião nos prédios? – pensei que meu irmão enlouquecera, ou preparava uma brincadeira. Jurou ser verdade e ainda descreveu a cor do aparelho: azul, tinha que ser novamente o azul.
Não dei crédito e cuidei dos meus afazeres. Somente mais tarde vi que a Internet, os noticiários e as pessoas não paravam de me informar:
- Um avião caiu no shopping. – minha mãe logo ligou perguntando se todos estávamos bem e em casa. Pensei em amigos, em parentes, em saber os detalhes. Um pequeno monomotor atingira o estacionamento destruindo dezenas de carros.
- Alguém morreu? – falavam de 2 a 4 mortos. Depois, muito depois, soubemos que eram um pai e uma filha as únicas vítimas fatais. Mais tarde os detalhes vieram à tona e a multidão bradou: um louco roubou um avião e quase matou muita gente.
Fiquei pensando: aquele louco está nos céus, mas e os milhares que estão nas ruas, nos ônibus, carros, motocicletas e caminhões matando-se mutuamente? E nossa correria insana para ter mais conforto e mais tempo sem que tenhamos tempo de usufruir paz?
Confuso? Sim, não sei se estou dormindo, ou acordado ou preso em uma dimensão sádica paralela ao testemunhar tais eventos. Quero despertar e ter a certeza de que tudo não passou de um sonho ruim. Quem sabe se isso não acontece no próximo minuto...
Em determinados momentos, mesmo que de olhos abertos e beliscando-me, sinto que estou dentro de um espaço surreal, como em um quadro de Salvador Dali ou em um conto de Kafka. Posso citar uma dúzia de situações nas quais me vi assim, geralmente associando-os a fatos que não se poderia imaginar nem mesmo sendo o roteirista mais fértil. Cito como primeiro fato o atentado contra as Torres Gêmeas; que paralisou o mundo em um suspiro seguido por ponto de interrogação: e agora?
Temíamos a reação do monstro americano e o desastre seguiu seu curso natural culminando com a invasão do Iraque, com o enforcamento bárbaro de Saddam e nenhuma arma química foi encontrada. A partir daí o mundo mudou, veio a bancarrota americana e o capitalismo dobrou os joelhos, mas o monstro ainda ruge – e continuará a rugir com seu poderoso arsenal nuclear – que Deus tenha piedade de nós!
Quando cheguei em casa naquela manhã, 11 de setembro, encerrara o expediente de trabalho. Demorei a crer no que acontecia. Minha esposa encontrava-se vidrada na tela eletrônica:
- É o Word Trade! Um avião o atingiu. – minha primeira reação foi duvidar. A segunda foi acreditar tratar-se de um pequeno avião.
- Não, foi um Boeing, disse ela.
- Mas como? – minha dúvida era lógica. Com toda a moderna tecnologia, que erro poderia ter causado aquele desastre?
Minha respiração ficou suspensa quando vi, ao vivo, a segunda torre ser atingida. O locutor não sabia o que se passava. Pensou também que devia ser uma reprise e só confirmou minutos depois que a outra torre fora atacada. Tínhamos uma certeza: era um atentado.
- Como, quem, por quê? – perguntas que lançamos no ar e que ainda gravitam universo afora.
A tragédia me fez pensar estar sonhando e acreditar que no minuto seguinte o despertador me livraria do pesadelo. O despertar não veio e caí na realidade, na pior delas.
Muito antes disso nossa cidade foi invadida por homens da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), vestidos em roupas plásticas amarelas, portando pequenos aparelhos e medindo a radiação em todo o lugar. Vi, estarrecido, um guindaste remover um ponto de ônibus inteiro em local de grande circulação. O brilho azul do Césio 137 aterrorizou toda uma geração e deixou marcas que cirurgia estética alguma poderá apagar.
Na semana passada, resguardadas as proporções, meu irmão veio com um alerta:
- Você viu o louco tirando rasante com um avião nos prédios? – pensei que meu irmão enlouquecera, ou preparava uma brincadeira. Jurou ser verdade e ainda descreveu a cor do aparelho: azul, tinha que ser novamente o azul.
Não dei crédito e cuidei dos meus afazeres. Somente mais tarde vi que a Internet, os noticiários e as pessoas não paravam de me informar:
- Um avião caiu no shopping. – minha mãe logo ligou perguntando se todos estávamos bem e em casa. Pensei em amigos, em parentes, em saber os detalhes. Um pequeno monomotor atingira o estacionamento destruindo dezenas de carros.
- Alguém morreu? – falavam de 2 a 4 mortos. Depois, muito depois, soubemos que eram um pai e uma filha as únicas vítimas fatais. Mais tarde os detalhes vieram à tona e a multidão bradou: um louco roubou um avião e quase matou muita gente.
Fiquei pensando: aquele louco está nos céus, mas e os milhares que estão nas ruas, nos ônibus, carros, motocicletas e caminhões matando-se mutuamente? E nossa correria insana para ter mais conforto e mais tempo sem que tenhamos tempo de usufruir paz?
Confuso? Sim, não sei se estou dormindo, ou acordado ou preso em uma dimensão sádica paralela ao testemunhar tais eventos. Quero despertar e ter a certeza de que tudo não passou de um sonho ruim. Quem sabe se isso não acontece no próximo minuto...