A Triste Florista
Sentei-me a uma mesa bem próximo ao palco, queria ver o show de meu cantor favorito. Estava anciosa, feliz e realizada por ter conseguido adquirir tão disputado convite.
Assim que meu ídolo subiu ao palco,eu nem piscava os olhos, não queria perder nenhum detalhe.
Nesse instante, aproximou-se de mim, uma moça com um ramalhete de rosas vermelhas, eram rosas individuais. Pediu que comprasse suas flores, precisava voltar para casa e ainda não tinha vendido nenhuma naquela noite. Desviei meus olhos do artista que estava no palco e fiquei a olhar a florista. Moça bela, bem vestida, cabelos bem cuidados,
mas algo me chamava atenção nela, tinha um olhar muito triste, eram
os olhos mais tristes que eu já vira em toda minha vida. Pensei: melhor
comprar algumas flores dela, quem sabe eu consiga arremeçar alguma em meu cantor. Por alguns instantes, essa bobeira passou
pela minha cabeça. Ainda bem que isso ficou só no pensamento!
Sem demora, convidei a moça a sentar-se à mesa comigo, pedí que descansasse, que assistisse ao show. Ela em silêncio, obedeceu.
Pensei: essa moça realmente é triste, não esboçou nenhum sorriso com o convite que fizera a ela. Acho que ela não gosta do cantor.
Não consegui me concentrar no show que rolava naquele palco, nem as músicas eu conseguia ouvir. Algo mexeu comigo e uma emoção diferente tocou-me a alma!
Perguntei seu nome, e ela me disse que se chamava Anastácia. Lembrei-me da escrava Anastácia.
A florista Anastácia me disse que tinha 20 anos, tinha concluído seus estudos fundamentais, trabalhava em uma loja agropecuária durante o dia e a noite vendia flores nos bares, restaurantes, shows e parques.
Não resistí e pergunte a ela o motivo de tanta tristeza.
Ela olhou-me como quem quer fugir de sí mesma.
Começou contar-me sua história:
Morava sozinha em um bairro afastado da cidade, não queria compartilhar seus últimos dias de vida com ninguem. Trabalhava muito para pagar seu tratamento de câncer em estado terminal. usava o sistema de saúde, mas mesmo assim os medicamentos eram caros.
Anastácia era sozinha nessa vida, ficou órfã de pai e mãe muito cedo e quando criança, vivia escapando de não ir parar em um orfanato.
Desistí de vez de assistir meu show, convidei ela a ir para
fora do club para tomarmos um refrigerante. Ela aceitou.
Conversamos por longas horas e no final, me propús a levá-la de carro até sua casa. Foi o caminho mais longo que já rodei dentro de uma cidade. Não chegava nunca no local que ela havia me informado que morava. Derrepente, um clarão tirou meu foco da direção, não conseguia ver nada a minha frente. Pensei ser um faxo de luz alta de algum caminhão. Estava errada com esse meu pensamento. Me ví sentada dentro de meu carro, em frente ao club que estava acontecendo o show. Suava frio, estava estranha...
Olhei para o lado do assento do passageiro e não ví mais a moça florista. Apenas estava depositado uma rosa vermelha no banco do
carro. Descí, perguntei a algumas pessoas que estavam alí se tinham visto uma moça carregando um ramalhete de rosas vermelhas. Não, ninguem a tinha visto. Será que adormecí esperando o show começar e sonhei com tudo isso? Será que Anastácia florista não existiu?
Muito estranho tudo isso, apenas sei que aquela rosa que estava
alí, demorou muito tempo para murchar, parecia que tinha um coração
batendo dentro dela.
Sempre que vejo alguem de olhar triste, lembro-me de Anastácia e
procuro conversar com a pessoa para alegrar-lhe.
Sinto até hoje o cheiro daquela rosa, vejo ainda o clarão à
minha frente. Não consigo esquecer a triste florista.