Incidente de rua

INCIDENTE DE RUA

(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 11.03.2009)

Essas coisas bobas, idiotas, que se fazem sem pensar, quase como se fossem brincadeiras levianas, e que, às vezes, podem levar a consequências bem mais sérias.

Era noite de sábado e a rua de mão única estava congestionada. Fila dupla de carros esperando o trânsito desafogar: saíram, todos, à mesma hora. Não só aquela, mas paradas todas as ruas em torno da Ressacada, o estádio do Avaí. Uma viatura do BOPE, o Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM, também aguardava o nó se desfazer lá adiante, na saída para o Centro.

Entre o carro que estava logo atrás do BOPE e o veículo ao lado, ocupado por um homem de 50 anos, infiltrou-se, como sempre acontece, uma motocicleta. Infiltrou-se, esgueirou-se (teria de alguma forma tocado no carro do homem solitário, de rosto vermelho?) e posicionou-se no espaço folgado que havia à frente, alinhada para seguir adiante assim que a oportunidade surgisse. O motoqueiro usava a camisa listrada oficial do Avaí.

O que se viu então foi o homem vermelho acelerar de leve o carro, aproximando-o da moto até tocar com o pára-choque a sua roda traseira, sacudindo-a com o impacto. O motoqueiro, desconcertado, avançou quanto lhe permitia o espaço. O carro veio em cima de novo, outra vez estremecendo no assento o condutor do veículo menor, por pouco não o pressionando contra o automóvel à frente. Assustado, o rapaz de camiseta azul e branca enviesou a moto, abrindo distância do carro, e este lhe veio em cima, atingindo-o pela terceira vez.

Começaram a discutir pela janela aberta do carro. O rapaz dava de dedo enquanto o homem tentava agarrar-lhe a mão, prevenindo-o que não apontasse para ele.

Indignadas com a gratuidade da agressão ao motoqueiro, pessoas chamaram os homens do BOPE, que apartaram os dois e pediram a habilitação do motorista (que custou a encontrá-la) e o documento do carro (que estava em um nome de mulher). "Este aqui está bêbado", afirmou um dos policiais, e determinou que ele e o motoqueiro aguardassem numa transversal o pessoal do trânsito, que já estava a caminho.

O curioso é que, certamente avaianos todos por ali, não havia o menor motivo para frustrações, dado que, jogando a melhor partida neste ano e reeditando o futebol que o levou à Série A do campeonato nacional, o Avaí acabara de arrasar o Criciúma, campeão do primeiro turno do estadual, pelo elástico marcador de 4 a 0.

(Amilcar Neves é escritor e autor, entre outros, do livro "Da Importância de Criar Mancuspias", crônicas, Editora Garapuvu, Florianópolis)

Amilcar Neves
Enviado por Amilcar Neves em 19/03/2009
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