Adeus a Clodovil
Edson Gonçalves Ferreira
Quando escrevi meu livro "Dois dedos de prosa... nas entrelinhas dos versos", coloquei uma crônica intitulada "A santa",
dedicada a ele que, sempre, amavelmente, conversava comigo.
No início da crônica, escreco: "Preciosa demais, ela veio do lixo. O luxo das coisas que mãos amorosas tocam. A elegância do de dentro, como diria o amigo Clodovil. E, agora, há trinta anos, ela, a Imaculada Conceição (imagem) é a rainha no meu oratório".
Quando li a crônica para ele, ele que, na época, fazia televisão, ficou super emocionado. Viria para o lançamento do livro em Divinópolis, mas a sua agenda não comportou. Marcamos e remarcamos o lançamento várias vezes e, depois, falei para ele que iria lançar o livro sem a presença dele, porque era impossível esperar mais. Ele gargalhou ao telefone e disse que estava tudo bem.
Tive acesso a Clodovil através do designer Jorge Brandão, que mora em São Paulo, e faz bijouterias e jóias para mulheres fantásticas, entre elas Vera Fisher. E, na crônica A Santa, cito mulheres minhas amigas incríveis como Clio Coelho Ferraz, grande dama da sociedade divinopolitana e belo-horizontina, membro da
sociedade Amigas da Cultura de Minas Gerais.
Assim, toda vez que cheguei a conversar com Clodovil, nunca ouvi dele uma palavra áspera. Ele era sincero, polêmico sim, porque tinha peito para enfrentar, de frente, situações adversas e pessoas que, às vezes, falam, sem pensar, coisas que nos incomodam.
Não posso reclamar de Clodovil e, hoje, sinto-me triste, porque com a morte dele, grande parte da História do Brasil (da moda, da comunicação, das artes) se perde.
Enquanto digito esta crônica, Ronaldo Esper fala, na Olga Bongiovani, do descaso para a história da alta costura no Brasil. Clodovil viveu mais de trinta anos como estilista e, como Esper fala agora, ele era o maior e o melhor desenhista de moda de sua época. Tanto que, quando sofreu o primeiro AVC, ficou com medo de perder a habilidade de desenhar.
Hoje, lamento a partida de Clodovil com quem não cheguei a conviver, pessoalmente, mas quem sempre me atendia, ao telefone, gentilmente. Em tempo, deixo o meu abraço para todos que, como eu, sentem a sua partida e, em especial, para Ronaldo Esper, Aguinaldo Timóteo, Jorge Brandão. Ele renasceu em Cristo no dia de nascimento da maravilhosa Elis Regina e, por isso, houve um encontro feliz noutra dimensão.
E, para terminar, esclareço que todos nós somos polêmicos, porque não existe uma pessoa igual a outra e ninguém que pense igual. Como poeta, como jornalista, como professor, sempre falo que o pensar de cada ser humano é um universo incrível e que, conforme diz um provérbio africano: "Quando morre um ser humano, uma biblioteca inteira é queimada". Saudades, Clodovil. Hoje, você é uma estrela no jardim do Senhor.
Divinópolis, 18.03.09