O sumiço da beca
A beca a que me refiro não é a vestimenta usada pelos funcionários do judiciário ou pelos formandos de alguns cursos superiores, não, era o nome que tínhamos dado a uma pequena ovelha que ficara órfã ao nascer.
Criada na mamadeira e paparicada por todos, era a princesa entre outras que possuíamos, entrava até em nossa casa, coisa que não permitíamos às demais.
Cresceu cheia de mimos e destacava-se pelo seu porte e pela mansidão.
Nossa pequena criação não tinha finalidade comercial, tínhamos mais para o aproveitamento da lã e os cuidados dispensados eram poucos, tanto é que só eram fechadas durante a noite e o restante do tempo viviam a solta, embora nunca se afastassem demais e à tardinha vinham por conta própria para o lugar do pouso.
Beca por si só destacava-se das demais, mas alem disso possuía um pequeno cincerro em seu pescoço que com o seu tilintar assinalava a sua posição e conseqüente presença das outras suas companheiras.
Certo dia Beca não apareceu com as demais, a principio não sentimos sua falta, pois, o badalar continuava a ser ouvido, somente mais tarde percebemos que o malfeitor, alem de ter matado a pobrezinha, havia colocado o cincerro em outra ovelha para iludir-nos.
Nunca descobrimos quem fez tal torpeza, e da Beca, tempos depois encontramos apenas seus restos.
Será que existe céu para as ovelhinhas? Brincadeira, mas se existir nossa Beca deve estar lá.