Verde, Vermelho e Branco

Assim, começava uma das prosas do Zé:

Sei que, depois de Nelson Rodrigues, o número daqueles que podem escrever sobre o Fluminense é bem pequeno.

Temos consciência de que o Zé, aquele velho e fiel torcedor do tricolor das Laranjeiras, não pertence a esse pequeno grupo.

Assim, acreditamos ser necessário esclarecer o porque de estarmos registrando as rimas e a prosa do Zé:

apesar dos tropeços na caminhada da esquadra tricolor, Zé jamais abandonou os estádios, ou xingou jogadores ou, até mesmo, pensou em deixar de usar a tradicional camisa com listras verticais; mesmo com as quedas para a segunda e terceira divisão, continuou afirmando: “quando o futebol tricolor andar muito fraquinho, resta a nós tricolores, para espantar os males desses maus momentos, escrever sobre o Fluzão, ou orar para que surja uma direção competente, dedicada e construtora de uma equipe briosa e competitiva.”

Mas, vamos continuar transcrevendo a prosa do Zé, que é o motivo deste nosso registro.

Acontece que os meus mais de cinqüenta anos de fidelidade tricolor dispensam-me do estilo e do nível literário dos poucos que podem se atrever a prosar sobre o Pó-de-arroz. Acrescenta-se a isso a caminhada vitoriosa, do final da década de 40 até meados da década de 50, da minha esquadra tricolor de botões.

Muitos dos tricolores reconhecem que, se as administrações e os cartolas estivessem voltados para a construção de um time eficaz, os resultados seriam melhores e o livro da história do Fluzão não teria esses capítulos censurados pelo sofrimento da torcida.

Apesar de em 1948 o campeão sul americano ser um dos adversários do Tricolor, e desse adversário ser considerado imbatível, a garra tricolor venceu no Torneio Municipal com gol de bicicleta de Orlando.

Apesar de no início de 1982 o futebol do Fluminense ter andado bem fraquinho, nunca estivemos na atual situação....

Agora, além do rebaixamento, não existe uma personalidade tricolor como o “Careca” como todos o chamavam carinhosamente.

“Careca” é patrimônio tricolor. Quando jogava a esquadra tricolor, surgia nos estádios com a careca, rosto, pernas e braços tingidos pelo branco do pó-de-arroz. Aparecia sempre vestido com a camisa listrada tradicional, trazendo uma bandeira tricolor amarrada no pescoço, ao estilo “Batman”.

Certa vez, o goleiro do Bonsucesso- que tinha uma cabeleira estilo “hair”(cotonete de orelhão) -, estava sendo atendido, pois simulara uma contusão para ganhar tempo. Como a tela que separava os torcedores era muito próxima do campo, “Careca”correu, aproximou-se do palco da farsa e sapecou talco na cabeleira do goleiro. A galera foi ao delírio....

Sei que a situação é difícil, mas não há mal que sempre dure. Acredito que a oração dos torcedores surtirá efeito e surgirá um pensamento nas mentes da direção e “cartolas” de formar uma equipe para sair da terceira divisão e disputar com dignidade o próximo campeonato carioca.

Enquanto isso não acontece, escrevamos e oremos irmãos tricolores...

Finalmente, não vou pedir perdão ao Nelson Rodrigues por minha ousadia e atrevimento, pois foram: a magia das cores do Fluzão; aquela primeira vez no estádio de São Januário, quando assistimos ao time vencer um de nossos adversários com gol de Ademir Menezes; a beleza da coreografia das bandeiras misturadas à névoa do pó-de-arroz; a paixão pelo futebol; a alegria do “Careca” e, quem sabe, uma ajudazinha do “Sobrenatural de Almeida” que fizeram a “Trova Tricolor”.

“Trova Tricolor” são rimas, algumas verdes, outras vermelhas e, ainda, outras brancas de esperança, amor e paz.

Trova Tricolor

Verde do gramado

onde rede e travessão,

são da bola o regaço

e do artilheiro a missão.

Vermelho do suor e da luta,

epopéia da raça tricolor

escrita nas partidas,

com jogadas de arte e vigor.

Branco da névoa da festa,

saudação da fiel torcida,

no pó-de-arroz que se espraia,

pela geral e arquibancada.

Verde da esperança

em manter no coração

a fantasia de criança

com os times de botão.

Vermelho é a cor da garra,

e também a do amor,

pulsando no peito da massa

que empunha a bandeira tricolor.

Branco, união das cores,

a paz é seu sentido,

musa dos tricolores,

na piscina , quadra ou no gramado.

Saiba grande companheiro,

tu que és do Flu torcedor,

que no teu espírito brejeiro,

vibra a paz, a esperança e o amor,

que no teu espírito brejeiro

vibra a paz a esperança e o amor.

Somos tricolores de coração,

somos tricolores de coração....

J Coelho
Enviado por J Coelho em 17/03/2009
Reeditado em 21/06/2021
Código do texto: T1491977
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