ANDO COM SAUDADES DE MIM!
Ah! Que saudades eu sinto daquela outra de mim. A jovem decidida, sem medo, sem traumas ou bloqueios! A moça destemida que trabalhava dez horas por dia, pegava seu Fusquinha vermelho e corria para a Faculdade, voltava esfomeada, comia qualquer coisa e dormia! O cansaço esvaía-se após algumas horas de sono para um novo recomeço.
Que vontade de rever a mulher que acumulava sonhos que sorria diante dos erros e buscava oportunidades, com os olhos ávidos e sensibilidade apurada! Aquela moça alegre, que a todos contagiava, com seu riso verdadeiro, seu coração exultante, pulsando vida, extravasando paixões! Ela era bonita e não se dava conta! Queria apenas viver.
Tenho muita saudade da moça arrojada, divertida, que saía com amigos, jogando conversa fora até altas madrugadas. Saudade daquela que varava as noites, sozinha, na sala de seu apartamento, ouvindo Bethania, Chico e seus discos de boleros! A jovem descolada, que passava coca-cola com óleo Johnson no corpo e ficava horas ao sol da praia do Itararé, em São Vicente, todos os fins de semana, para se bronzear.
Saudades da menina que não desistia diante das dificuldades, que tinha a coragem de romper as barreiras que a prendiam, a ousadia de quebrar as correntes escravizantes que insistiam em tolher a sua caminhada! Que não conhecia a palavra impossível que a fizera dona de si mesma e de seus pensamentos. Que jamais se deixou vencer pela timidez e, no entanto, com humildade e sabedoria, soube traçar seu destino.
Que saudades eu sinto de ti, menina pobre do interior de Minas Gerais, que venceu todos os obstáculos de uma época impregnada de preconceitos e soube dar a volta por cima sem prejuízo de seus princípios e laços fortes da educação recebida. Que saudade, menina-mulher, que amou e foi amada, que não teve a vida estagnada pela fragilidade do meio em que caiu, não se prostituiu, não se drogou, não se perdeu pelos antros da vida.
Que saudades eu sinto daquela outra pessoa que nem reconheço mais em mim! Onde será que ela se escondeu?