CLODOVIL HERNANDEZ + 17-03-2009

No início dos anos 1960 soube da existência de Clodovil que, ao lado de Denner, um ícone do figurino feminino brasileiro, dava os primeiros passos nas passarelas e na mídia nacional.

O tempo foi passando e o Clodovil foi crescendo, chegando aos anos 1970/1980 à Rede Globo de TV como um dos apresentadores do programa matinal diário TV Mulher, ao lado de Marília Gabriela e a então sexóloga Marta Matarazzo, que depois passamos a conhecer como Marta Suplicy, mais tarde, prefeita de São Paulo.

Seu temperamento irrequieto trouxe-lhe muitos contratempos, seu sucesso desencadeou invejas e sua inteligência incomodava a mediocridade que sempre está à espreita, nas armadilhas da vida.

Numa época em que a homossexualidade era tabu, Clodovil declarou-se homossexual. Sempre teve respostas para todas as questões, vez que era um sujeito antenado com tudo o que se passava no mundo fashion e no mundo intelectual. Lia muito e conhecia bem a nossa literatura e os nossos artistas. Entretanto era, até certo ponto, ingênuo, por deixar-se amarrar pelas engrenagens da intriga e da antiética.

O Clodovil era um sujeito ético e coerente. Falava o que pensava e respondia às perguntas mais despropositadas, com palavras e gestos que tinham muito do humor alegre que o caracterizava.

Passou por várias emissoras de TV e quando tudo parecia ir bem, desaparecia. Por trás da sua demissão sempre ficavam dúvidas do porquê. Se o seu programa ia tão bem, não ficava nada claro o porquê da sua saída.

A última experiência foi na Rede TV. O programa ia de vento em popa, e eis que Clodovil saiu, de uma hora para outra. Ali ele descobriu a comediante ‘Ofrázia’ e sua última aparição na TV foi no programa Silvio Santos, respondendo ao famigerado detector de mentiras, apelidado de ‘polígrafo’, há poucos dias.

Em 2006, saiu candidato a deputado federal em São Paulo e obteve 493 mil votos. Uma resposta do povo paulista aos empresários da mídia que levaram-no ao ostracismo e, segundo suas próprias palavras, em entrevista naquele ano, faltando-lhe dinheiro até para comprar remédio para curar-se de um câncer de próstata.

O mundo artístico é mesmo assim. E Clodovil saiu de um mundo midiático para o mundo político, onde todos os homens são jogados no lugar comum da safadeza. Isso faz parte da nossa cultura e da falta de respeito que o brasileiro nutre pelas instituições. Faz parte do poder, o sujeito pode ser o mais honesto e ético cidadão, mas passa à vala comum, comparado a qualquer ladrão do erário.

Explica-se que as instituições são apedrejadas pelos detentores do poder executivo que ‘compram’ a mídia, teem o dinheiro do erário para fazer favores, nomear, financiar, etc...

Este dia 17 de março de 2009 marca o final da existência de um cara singular, que não viveu em brancas nuvens, que padeceu, foi perseguido, mas que nunca ajoelhou-se frente aos poderosos.

Em sua rápida passagem pela vida pública, Clodovil teve seu mandato ameaçado de cassação por falta de decoro parlamentar (tendo em vista algumas palavras mal pronunciadas contra uma deputada do PT) e depois pelo seu ex partido que resolveu abandonar sem saber que estaria incorrendo em erro.

Não foi subornado pelo poder de plantão e teve uma atuação digna na Câmara Federal. O Estado de São Paulo deve orgulhar-se do mandato que lhe concedeu e que foi um belo presente de despedida para quem deu a sua vida brilhante pelo bem da população paulista.

Adeus, Clodovil. Que Deus o acolha em sua glória. Descanse em paz!