Quem a persegue?
Ela caminhava pelo estacionamento do Shopping depois de um dia exaustivo de trabalho e de fazer algumas compras. No relógio do celular percebeu que já eram vinte e duas e trinta, " Nossa como o tempo voa", pensou. Resolveu ligar para a filha:
- Meu bem, hoje sua mãe vai chegar mais tarde.
A filha , no entanto, se limitou a reclamar do irmão que a estava atrapalhando usar o computador. Ela disse qualquer coisa para a filha e desligou.
Observou seu reflexo no vidro de um carro. Estava bem para os seus trinta e quatro embora desejasse emagrecer mais um pouco. Continuou sua caminhada solitária por entre as fileiras de automóveis.
Foi quando ouviu os passos. Eram passos duros e cautelosos, eram passos de um homem certamente. Ela caminhou mais um pouco e viu pelo reflexo de um dos carros que se tratava mesmo de um homem. Mas de que tipo? So tinha visto o vulto, não tinha coragem de olhar para trás. Seria negro e forte como alguem que tentara roubar sua bolsa outro dia? ou seria branco e careca como um punk disposto a lhe meter o canivete no rosto a troco de qualquer mixaria para poder comprar drogas? Seria um pevertido? Não queria saber não queria olhar para trás.
Ela aumentava o ritmo dos passos e o homem tambem fazia a mesma coisa. Tambem poderia ser uma mulher que se vestia como um homem mas este pensamento não aliviou seu medo. Não via ninguem por perto, mas havia uma guarita de vigilantes logo adiante.
Porem quando se aproximou da guarita o vigilante não estava lá, não havia ninguem que pudesse lhe ajudar. Só a marquise. Se não quisesse pular e se esborrachar no passeio teria que encarar seu perseguidor.
Nesse instante teve uma estranha coragem e se voltou para trás. Tudo que viu foi um homem de camisa verde. Não era branco e nem muito negro. Um homem como outro qualquer, do tipo que poderia trabalhar numa padaria ou num escritório.
- Moça, você deixou cair sua carteira quando tirou o celular da bolsa.
A carteira! Tinha cartão de crédito, cheque , dinheiro e estava tudo ali do mesmo jeito. Pensou em agradecer a Deus por estar viva mas esse pensamento lhe pareceu ridículo diante do homem que deu meia volta e saiu assoviando, sem esperar por agradecimento ou recompensa.
Ela guardou a carteira se sentindo meio patética e surpresa ao mesmo tempo. Ela sabia que o acontecido ali logo seria esquecido porque a lei da sobrevivência que rege a selva de concreto precisa do medo como um sinal de alerta.