Eles
Podia sentir a leveza de aquela noite levar seus cabelos, elevar os pêlos do braço por um fio de vento gelado que passava, era um daqueles momentos certos que nunca se repetirá. Mariana já não tinha o ardor da paixão por aquele homem, mas o simples fato de terem se tornado amigos a deixava feliz.A ternura fraternal ocultava uma ponta de desejo causado por engano, por não ter sido desejada da mesma forma que o desejou.
Denis se apaixonou uma vez só, correspondido apenas por semanas.Passada a decepção se especializou em iludir as meninas jovens, facilmente ludibriadas por sua lábia tão bela quanto diferente. Mariana havia sido uma delas, felizmente o relacionamento durou o pouco tempo de magia e sofrimento, e com a mesma sorte e ironia tornou-se sua confidente fiel.
A praia era o lugar comum de encontro entre eles, ela sempre com cuidado de vestir-se de acordo com o gosto de Denis, apesar de tudo se sentia bem quando estava bonita para ele. Conversavam sobre tudo; as meninas que estavam na “fita” dele, os meninos que ela achava interessantes, falavam de astrologia, discutiam sobre família e futuro; riam muito e, às vezes o silêncio se deixava ouvir junto ao vento e o mar, foi num desses momentos, depois de fumarem um cigarrinho que Denis deitou-se no colo tranqüilo de Mari. “Quando tua cabeça me pede carinho, minhas mãos delicadamente percorrem cada poro de tua face branca, bonita” Era o que pensava em dizer, porém sabia que jamais o faria, pois Denis não corresponderia ao chamado de desejo algum, a não ser por brincadeira e disto ela não precisava. A dor de ser um jogo não lhe supria a satisfação mais do que ser sua melhor amiga. Enquanto falavam trivialidades sentia os pêlos da sobrancelha grossa e os tornava uniforme, descia a mão e tocava todo o pedaço da bochecha esquerda, do nariz (pequenino nariz!). “Vejo a tua boca querendo sussurrar , querendo calar..e não toco, são lábios avermelhados e bem convidativos.”
O vento da praia se intensificava mostrando que era chagada a hora de ir embora. Ele tinha pensamentos vagos e difusos, gostava dos carinhos da amiga mas preferia mãos de outras garotas a lhe tocar o corpo. Mari só queria ficar ali fazendo planos e carinhos, deixando que o pensamento seguisse sozinho seus desejos mais íntimos embora soubesse que nos planos dele não fazia parte. “minhas unhas coçam tua barba e continuas deitado, respirando quase preocupado, olhando fixo e pensando em outra! Mas assim mesmo não consigo despregar os dedos de ti, meu movimento felino e breve sempre quer se comunicar, olha pra mim!não somente amiga, sou tua bióloga, tua professora e tua confidente”. A lua se distanciava, ambos continuavam imóveis e os movimentos corporais eram quase imperceptíveis.Denis no fundo sabia que ainda escondia desejo por ela, não entendia mas gostava disso, pois ao pensar que esse desejo podia acabar sentia ciúmes e medo, como se fosse ficar só embora nunca o estivesse.Era como se Mari completasse seu ego, não! Não era só isso! Tinha imenso carinho por aquela menina, não sabia bem definir, mas tinha plena certeza que não queria perde-la.
Ambos se preparavam para partir, o consolo ainda estaria lá: O mar. Eles ainda retornariam “você ainda vai querer minha boca; e quando acontecer não pensarei mais em ti”. Levantaram e caminharam devagar, os passos concretizavam a certeza que estavam ali, apenas estavam, porque no fundo sabia que ao retornarem para suas casas, nem mais lembrariam de seus desejos.
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