QUE VENHA A MIM UM CANTO GREGORIANO

Gosto de escrever. Gosto sim. Tanto posso escrever sobre os maniqueus, gnóticos, pitagóricos, estóicos, taoismo, ou simplesmente sobre uma lagartixa em que atirei uma pedra e que de fato era apenas uma lagartixa, ato esse que me fez sentir vergonha de mim. E sobre religião? Religião...? Não, não gosto de escrever, pois penso como a mística, filósofa e agnóstica francesa Simone Weil, (Paris, 1909/1943) que convidada por um padre católico a batizar-se, recusando respondeu: não quero ser adotada por um círculo, viver entre pessoas que dizem nós e ser parte de uma “gente”, descobrir que ‘estou em casa’ em quaisquer cercanias humanas, sejam lá quais forem... sinto que é necessário e ordenado que eu deva permanecer só, uma estranha e uma exilada em relação a qualquer círculo humano, sem exceção”. É dela, também, este pensamento: A religião como fonte de consolação é um obstáculo à verdadeira fé: nesse sentido o ateísmo é uma purificação”. Dela existe um outro , sobre a criação do Mundo, atribuída a Deus , que diz: “Era-me mais fácil imaginar sem criador do que um criador carregado com todas as contradições do mundo”. E pensar que toda essa descrença foi por água abaixo quando a nossa filósofa ouviu um canto gregoriano num mosteiro beneditino enquanto curtia uma senhora enxaqueca e ela experimentou a alegria e amargura da paixão de Cristo como um evento real – e pela primeira vez começou a pensar em si mesma como uma pessoa religiosa. ( Veja este exemplo, Nena querida e não perca a fé em mim, gosto do canto gregoriano e quem sabe ouvindo-o com mais freqüência eu não me encontre e passe também a me sentir uma pessoa religiosa, afinal, tudo é possível, pois não?)

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 17/03/2009
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