SÃO PAULO, MEU AMOR.

Amar São Paulo é fácil. Difícil é ser sensível o bastante para querer conhecê-la em sua essência e desvendar seus mistérios. Metrópole que acolhe a todos de braços abertos e coração repleto de amor, é amada por poucos, tolerada por alguns e detestada por muitos. Esta antiga e, em outros tempos, pacata cidade da garoa, que surgiu num pequeno pátio e aos poucos foi crescendo, evoluindo e progredindo até ultrapassar todas as fronteiras do Brasil, é hoje a moderna e gigantesca Sampa "do agito", do corre-corre, dos imensos edifícios comerciais, das grandes avenidas, das inúmeras linhas de um metrô que não tem fim, dos milhares de carros, dos congestionamentos estafantes, da super povoada colônia de emigrantes e imigrantes. Cidade das Marginais e também dos marginais, das grandes universidades e inúmeras beldades, do aglutinamento de prédios descomunais, é o núcleo dos grandes empresários e de incansáveis operários. É a megalópole do trabalhador que não vacila nem mesmo frente às greves paralisantes dos meios de transporte. Quem mora em São Paulo é um bravo: não fica sem trabalhar, haja o que houver. Da periferia ao centro, da zona norte à zona sul, vai de um extremo ao outro. Enfrenta as quatro estações do ano num só dia, transpõe quaisquer barreiras, não hesita diante das intempéries, “faz corpo mole, não!”.

São Paulo é vida para todos e para todos é uma vida... Meiga ou atrevida, palco de tragédias dantescas e de comédias pitorescas, dos restaurantes elegantes, dos botecos petiscantes e das baladas dos “ficantes”. Das noites esfusiantes, dos aflitos e desvairados, das favelas e das grades nas janelas. A sampa do Bar Brahma, cuja tradição fez a fama, do Tobias da “Vai Vai” e do Corinthians que não vai...

A minha São Paulo que tudo tem e nada pede a ninguém, é auto-suficiente, é pátria de toda gente. Algo assim como intrigante: selva urbana deprimente e edificante, opulenta e miserável, nababesca e invejável. Ah, Paulicéia desvairada! Tens o coração revestido de pedra, és grito que medra, és canto que alegra... Cidade dos absurdos, estrela cadente no amanhecer, sol vibrante ao anoitecer, és o próprio entorno do cimento “almado” que suporta os imensos blocos de concreto dos centros comerciais. És súmula da modernidade, chama ardente que bruxuleia dentro do coração de toda sua gente, de tantos quantos aqui vêm buscar seus rumos, seguir seus destinos engajando-se na engrenagem do progresso que faz desta urbe kafkiana um verdadeiro país. Tens a alma da mulher com todos os seus mistérios, o coração da mãe enérgica, mas dedicada ao extremo. És puro sentimento, mas também és razão. Tens a delicadeza feminina e a força masculina, o encanto da fêmea sedutora que, provocante, incita o amante a enveredar pela senda de teus mistérios infindáveis e incognoscíveis... És frenética, fremente, "anti-estética", incongruente... Sem preconceitos, amar é o teu lema: do pau-de-arara sofrido, à carioca Garota de Ipanema...

Poucos te elogiam, muitos te depreciam... Mas os que te amam de verdade, os que reconhecem teu valor e tua riqueza, minha São Paulo adorada, só estes sabem, com certeza e imenso orgulho, que és humana como poucos, tão sensível quanto os bardos e seresteiros que sempre te louvam em versos e acordes!

Miriam Panighel Carvalho

Miriam Panighel Carvalho
Enviado por Miriam Panighel Carvalho em 17/03/2009
Código do texto: T1490478