O SOL DA ESCURIDÃO…

Diz a verdade (?) bíblica em Gênesis, 1-3, 4,5: “_Disse Deus: Faça-se a luz, e fez-se a luz. E viu Deus que a luz era boa, e dividiu a luz das trevas. E chamou à luz dia e às trevas noite.” Assim como a natureza se reveza em dias e noites, a vida em seu itinerário de evolução mescla sua jornada cheia de desafios em momentos de luz e trevas. Por puro desconhecimento ou mesmo ignorância da ciência da alma, vivemos mais atolados no lamaçal da violência, do ódio, da inveja e da completa escuridão existencial do que qualquer outro animal. O homem só é home m porque pensa - e porque “não” mais pensa, falido e conquistado pelas imitações baratas da matéria, nos dias atuais, melhor seria dizer que somos produtos de nós mesmos. Esqueçamos Deus portanto, uma infeliz aceitação para quem já recebeu Dele há muito tempo um grande dom - o dom de enxergar na escuridão. Imersos às trevas de problemas e egoísmos napoleônicos em nossa noite de batalha, não reconhecemos que a lua é o Deus Sol dos navegantes. Em meio a qualquer escuridão ela lá está para testemunhar que o Sol existe. Somos esta lua - só temos luz quando nos deixamos ser acariciados pelo Sol Divino.

Todos os dias somos provados a limpar o céu da consciência, carregado de nuvens negras que bombardeiam o coração com decepções e mágoas - magistrais chagas do infortúnio a servir torrentes de lágrimas infindáveis. O sensível poeta Rabindranath Tagore observa: “O sol usa apenas a sua túnica de luz. As nuvens ornam-se com magnificência”. Magnificência, eis o brilho tolo, veneno que faz as nuvens negras se chocarem, tempestades que apontam em meio a trovoadas, raios certeiros das mais repletas maldições - todas querem alcançar a altura e o tamanho impossível para ofuscar o Sol e sua túnica. Deste modo nasce a miséria mais miserável - servir à matéria ao invés de servir-se dela. É preciso dissipar estas nuvens negras de nossos horizontes para enxergar este brilho lunar que regula nossas fases durante o nascer e o morrer. Para todo navegante desse mar existencial só há uma grande vitória, estágio máximo na escala divina a ser alcançado - chegar à fase da lua nova, quando todos os pensamentos mesquinhos derrotados de sua missão diabólica voltam-se rumo ao Sol, deixando para trás toda a escuridão dos seus martírios, redescobrindo através da lua que aquela grande luz do outro lado de um mundo desconhecido em nós é o Deus Sol, que carinhosamente desde a criação dia e noite se reveza em nossas vidas com uma única promessa: “Reconheça-me nas trevas, eu sou a luz, o amado Sol que pinta e brilha na noite a lua dos navegantes. O farol que diz ao náufrago: “Não desista, nade sem parar, logo adiante existe terra firme”.

Se você plantar uma sequóia, cuja semente não passa de uma cabeça de alfinete, dentro de uma garrafa e colocar uma rolha aprisionando-a, sufocando-a completamente, ainda assim ela não morrerá se for colocada no jardim junto às outras plantas livres. Tudo que ela precisará é de luz solar para renovar constantemente o ar, destroçar a sua prisão, transformar-se numa árvore de 100 m e viver aproximadamente 5.000 anos. Tudo que precisamos para evoluir e quebrar as grades da prisão corpórea é nos colocarmos nos jardins da caridade, da irmandade, da completa busca dos verdadeiros sentimentos. Estes são ricos em luz divina que a todo o momento aponta-nos o Sol da escuridão - eclipse que, ao nos colocar frente à nossa fé, projeta-nos à sombra de nossas ações espirituais, onde já não somos mais o que pensamos, somos o que fazemos. Epicteto nos aponta este caminho: “Não espera o sol que lhe supliquem para derramar luz e calor. Imita-o e faze o bem que te for possível, sem aguardar que te implorem”.

Johann W Goethe afirma: “O homem não foi feito para ver a luz, mas para ver apenas as coisas iluminadas pela luz”. É por isso que existe a lua para iluminar-nos noite adentro, quando adormecidos e exaustos às vezes esquecemos de que o Sol é real e logo após uma madrugada de muitos sonhos, que se misturam aos pesadelos, renascemos por detrás de uma montanha de obstáculos, anunciando na aurora mais uma vitória da luz sobre as trevas. Goethe tinha razão - o homem não foi feito para ver a luz porque ela é uma voz que precisa ser ouvida. Escutemos com amor o que disse certa vez um desses Fiéis Mestres, Raios Solares a nos aquecer: “Eu sou a luz do mundo, o que me segue não anda em trevas, mas terá (tem!) o lume da vida” (João, 8-12).



Moryan é escritor, palestrante e publicitário.
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