O acidente
Estava indo para uma outra cidade. Viajava despreocupada, sem fixar o olhar em lugar algum. De repente percebi um som de metal se rasgando, e quando fixei o olhar à frente, vi algo sendo lançado para cima. Não dava para ter idéia do que era. Nosso carro estava subindo, e nossa visão estava comprometida, mas quando chegamos ao topo, gritei para meu marido:
_É um bode? Um cachorro?
Só então pude perceber. Um homem havia sido lançado para o alto.
_É um homem! Pare o carro!
Meu esposo correu a minha frente. O homem que fora atropelado, tinha saído de uma estrada, de um nível mais baixo, e entrara de vez. Resultado um carro vinha em alta velocidade, pegara a moto em cheio. Ficou em pedacinhos. O carro desgovernado saíra da perimetral e descera uns quinhentos metros. Graças a Deus ninguém se machucara.
Mas o homem... Rodava feito pião, desorientado. Estava na outra faixa. Meu esposo o levantara, tentando tirá-lo da pista. Braços, pernas, costelas... Tudo quebrado. Sangue, dor. A esposa que estava do outro lado, assistira tudo. Gritava desesperada, mas por causa do choque, não saia do lugar.
Carros paravam, pessoas chegavam... Um carro com um policial dentro parou, olhou, fez as perguntas, mas não queria ir com meu esposo para prestar socorro ao homem. Meu esposo pedia que quem tivesse presenciado o acidente que fosse conosco para o hospital. Resposta: Não podemos, estamos ocupados. Leve o senhor.
Na hora não pensei duas vezes. Peguei a esposa do homem que já estava mais calma, e lhe disse:
_ Entre no carro do policial e vá socorrer o seu esposo.
Ele fechou a cara, disse que não podia, que estava com pressa de chegar em casa. E eu tremendo como vara verde, lhe disse com uma voz que aos meus ouvidos soou desconhecida:
_O senhor que é policial não quer prestar socorro ao homem; e quer que meu marido vá sozinho pra ficar preso ou ter que provar que não foi ele que atropelou esse coitado? Entre moça nesse carro que esse policial vai levar a senhora pra o hospital.
Ele não esperava por aquilo, e com a multidão à volta não pôde recuar. Depois de tudo, é que eu cai em mim. Não pesei minha reação; se fosse hoje, não faria aquilo de novo.