O Ego em Zorra
O Ego em Zorra
Existem fases de nossas vidas em que nos sentimos confusos, fracos e incapazes para qualquer reação.
Acreditamos que esta nossa situação equivale àquela da tartaruga ou da barata, quando se encontram desesperadas com as perninhas e o peito para cima, tentando voltar a posição primitiva e natural.
Nessas fases da vida ficamos sem saber o que fazer e iniciamos um processo de descrença em qualquer tipo de reação ou luta.
Nesses momentos, quem não sente vontade de fugir e abandonar tudo?
Somos assediados por um sentimento de fuga e de uma agressividade desordenada que, para serem aceitas, são camufladas pela ironia.
Pensamos, nessas ocasiões, quão maravilhosas são a submissão inconsciente e a ignorância. Quão cômoda, a irresponsabilidade.
Dizem que de médico, poeta e louco, todos nós temos um pouco.
Parece que nessas situações um quarto elemento, o pouco de nós mesmos, que ainda nos restou e mais o pouco de médico, poeta e louco entram numa competição por mais espaço.
Cada um, principalmente os três que supomos ter pouco, cria um canal de comunicação e faz sua promoção com certo desespero, tal como os políticos em vésperas de eleições.
O médico ordena que tenhas dores, para que, assim, dependas de sua atenção e serviços. Desta forma, poderá manifestar-se receitando ervas inicialmente, até chegar aos temidos antibióticos, antiinflamatórios, antidepressivos e outros “antis”. Tudo contra, nada que seja a favor. Mas, é assim que se expande o médico e nossa verdadeira individualidade vai se contraindo...
O louco sugere, inicialmente, para não “esquentares a cabeça”.
Depois, para matares o tempo o mais que conseguires: televisão, jogos eletrônicos, palavras cruzadas, jogos de azar etc.... Finalmente, com ares messiânicos, te seduzirá para o paraíso da alienação total, geral e irrestrita. E, nós mesmos, vamos perdendo cada vez mais espaço... “Será um mundo exclusivamente teu, sem riscos, sem o sofrimento dos que amam, sem o desgaste dos que querem transformar e, também, sem fazer as contas para espichar o salário”, conclui o louco.
O poeta filosofa com decisão: “na condição de agente da poesia, sou o belo, a magia, sou a fantasia criadora e transformadora. Sou o de melhor em ti. A tua expansão é a minha também. Com tua contração corro o risco de desaparecer”
Esta “zorra” decorrente do conflito gerado pela concorrência entre o médico, o louco e o poeta para expandirem suas posições- é que gerou “Zorrgo”.
“Zorrgo” é a tentativa de chamar a atenção para que só com a expansão do bem, do bom e do belo, representado pelo muito ou pouco de poeta em nós, poderemos expandir nós mesmos - rimas do Grande Poeta do Universo - para evoluirmos para imagem e semelhança de Deus.
“Zorrgo”
Se analiso a realidade,
chegam dúvidas ao coração,
pois Buda, com propriedade,
disse que tudo é uma ilusão.
Pode ter bálsamo para tédio,
pra dor de cotovelo, samba-canção.
Se para morte não há remédio,
por que tanta competição?...
Mas, para o meu renascer,
faço do avestruz meu modelo,
baixo a cabeça, ergo o traseiro
e esqueço de que tenho medo.
Com muito riso e pouco siso,
vou me perder na ilusão,
vou me drogar no puro brilho
dos domingos na televisão.
Estou contando os anos,
como contas na oração,
pra realizar o meu projeto
com a grana do jogo que não veio não.
Por ser humilde e puro,
vou rogar , ao celeste reino,
a segurança e a guarda
de um doce e forte anjo.
Sem poesia e com anarquia
“Zorrgo” é mais que o ego em zorra.
É a pressa que não deixa entender;
é o muito, ou o muito pouco
de médico, poeta e louco em você.