El cobrador de Frac
“El cobrador de Frac” é um cidadão argentino contratado por empresas para cobrar os caloteiros. É um senhor respeitável vestido nobremente de terno e casaca com uma cartola à cabeça. Dirige um carro moderno pintado em duas cores, o capô branco e o restante da lataria preta, nas portas dianteiras, a frase pintada de branco: “El cobrador”.
As empresas argentinas estão muito contentes com a eficácia do cobrador, já que ninguém gostaria de ver o carro em frente de casa, ou parando na porta do serviço.
- Não cobramos contas pequenas, queremos os caloteiros de verdade, relata o cobrador, pronto para mais um trabalho.
O efeito é psicológico e as contas, restituídas.
No Brasil obviamente chamar alguém de caloteiro, além de ser uma ofensa é passível de processo judicial por difamação. Quem está certo é quem deve. Quem cobra é abusador dos direitos humanos. Nem por telefone o cobrador pode solicitar a quitação dos débitos do outro. Existe vergonha maior que o indivíduo que vendeu e não recebeu; sair por aí cobrando o comprador porque está usando o produto e não pagou? E o pior: estar impossibilitado por lei de cobrar?
Aliás, poder cobrar pode, o que não pode é cobrar com jeito de cobrador. Tem que cobrar de um jeito como se estivesse pedindo um empréstimo, um favor, implorando. E falando baixinho para que o não-pagante não se ofenda com o volume e o tom da sua voz. Ah! E não pode ter ninguém por perto, já que será testemunha fatal num processo judicial futuro.
E também não pode ser na rua, porque o devedor pode se atrasar para algum compromisso e usar isso contra o vendedor. Ouse alguém recuperar o produto comprado e não pago. Ouse e a viatura policial estará na residência em tempo recorde detendo o comerciante lesado. Lesado é o comprador que tem sua casa invadida e seus bens confiscados, e por causa de que?
- Só por causa de cinco prestações que não deu pra pagar, mas assim que começar a receber a pensão por invalidez do INSS eu quito tudinho.