O CIÚME NÃO COMPENSA

Quando os olhos dele pousaram sobre o vestido dela, não acreditaram no que estavam vendo, ou melhor, duvidaram que restasse algo para ser visto. A concavidade da cintura, a convexidade do quadril, a proeminência dos seios, a circunferência das coxas, a demarcação da calcinha... Tudo mapeado sob o tecido amarelo. “Você não vai sair comigo assim!" Vociferou como um pirata, ao ver seu tesouro ameaçado. “Vou sim!” Rebelou-se a mocinha, legítima dona do tesouro. Saíram. Mas, não do carro. Passaram a noite brigando em frente à boate. Ele, exigindo que ela trocasse o vestido. Ela, batendo o pé sobre a poça de lágrimas.

Quantas noites terminam assim? Quantos dias começam assim? Quantas histórias com começo, meio ou fim assassinados pelo ciúme bandido poderíamos narrar? Não precisamos ser vovozinhas para sentarmos numa poltrona fofa e ficar contando e recontando histórias protagonizadas pelo ciúme, todas com final infeliz.

Não sei quem inventou que “o ciúme é o tempero do amor”, mas sou capaz de apostar que esta invenção maluca partiu de um ciumento. Quem mais precisaria de um atenuante destes? O Clube dos Ciumentos Anunciados defende as manifestações controladas, o tal ciuminho bem dosado, aquele que confere um sabor especial à relação sem causar efeitos colaterais. Uma ova! Atire a primeira pedra quem parou após primeiro surto de ciúme.

Cuidar e zelar de quem se gosta, isso sim é imprescindível. Estar atento aos acontecimentos em volta e pressentir quando algo não vai bem, isto é mais do que normal. Mas sentir-se dono ou dona, achar-se no direito de controlar e monitorar a outra pessoa é doentio e destrutivo. Tem que goste? Claro que tem! Assim como tem quem gosta de apanhar, quem tem atração por galinhas ( leia-se homens e mulheres), tem os que babam por um amor picante, condimentado por um Chef ciumento.

Mas, a estes incorrigíveis gourmets acalorados cabe uma advertência: “Ciúme é veneno disfarçado de pimenta. Em excesso pode matar – o amor ou o amante- e, definitivamente, não compensa.”

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 15/03/2009
Reeditado em 15/03/2009
Código do texto: T1488302