Liga pra mim...

Um dia li uma crônica do Mário Prata em que ele contava aos jovens moderninhos porque usamos a palavra “discar” ao telefonarmos. Explicava também o que era o disco e como usávamos a tal geringonça.

Foi então que me dei conta de que sou de uma geração (ele também é) anterior a esse tipo de telefone. Que horror! Aquele do nosso tempo nem tinha disco!

O aparelho lá de casa era dos “novos”, pequeno e preto. Diferente daqueles grandes e marrons que eu via em casa de meus avós e tias-avós. Retangulares, pregados à parede, mais pareciam uma cara com dois olhos arregalados que se mexiam, e tremiam, quando alguém ligava. A enorme boca saliente era como a do Lobo Mau. E tinha orelha só de um lado, caída, presa à cabeça por uma argola. Do outro lado ficava a manivela.

Para atender o chamado bastava tirar a orelha da argola, colocar junto à nossa e falar pela boca. Do Lobo. Difícil para mim era alcançá-la. Eu tinha que colocar os pés num banquinho e ficava morrendo de medo de me desequilibrar, e cair, bem no meio da conversa.

Pior ainda era fazer a ligação. Quer dizer, pedir à telefonista que a fizesse. E ouvir: “momentinho, por favor!”; “ocupaaado!”; “os troncos estão com defeito”...

O que hoje chamamos de fone eram duas peças separadas: boca e orelha. Nada mais lógico, falamos pela boca e ouvimos pela orelha. Mas não pensem que a parte restante, grudada na parede, era o tele...

Bem, tudo isso parece história, mas não menti nem inventei nada. Hoje em dia teclamos e falamos imediatamente com a maior naturalidade. Sem dialogar com intermediários. Os celulares estão aí pra confirmar. Ou infernizar. Falamos de onde queremos e somos encontrados onde não queremos. Sabemos de antemão quem nos procura, parece mágica.

Nem precisamos aguardar horas por uma ligação, seja para casa ao lado ou pro outro lado do mundo, sem complicação...