O tempo é meu lugar

No salão de beleza situado na casa onde, outrora, morou dona Solange, na Rua Brasil Accioly, Araguari, Minas Gerais, mulheres das mais variadas idades se aprontam para o casamento. A varanda da casa (borda leitosa entre o dentro, o fora, e o tempo) me acolhe. A sala cheia de ruídos, cheiros, cores, secadores, rolar de escovas e risos, cabelos secos e molhados, calor dos corpos no rosa difuso das paredes, guarda o presente.

Lá longe, a linha curva e infinita que na recém noite se estreita e abraça a cidade, torna-se a passarela onde desfilam os avós, o pai, tios, alguns primos, dona Solange e o doutor Belizário, o irmão Brasil Junior, os amigos Álvaro Sérgio e Janice _ silêncios doces e pungentes.

Escorridos e crespos os instantes me enlaçam. Sou apenas um pontilhado azul escuro _ aqui, e naquele horizonte.

Na sala adivinho a noiva, as primas, as filhas, as netas.

Em minha ausência a vida segue barulhenta, embora, como os que se foram, sem ser aqui apenas, e estando lá, eu seja parte.