DE MANIAS E LOUCURAS... – PARTE I
Recentemente, eu estive na capital do meu Estado, na companhia de um colega de profissão. Fomos à busca de novos conhecimentos e novos paradigmas educacionais – apesar de sabermos que a instituição escolar padronizada só se mantém firme, até hoje, por não ter, em seus muros de conhecimentos, um modelo definido de como promover uma educação sistemática, apesar das controvérsias – como forma de aprimoramento, claro, e, também, como uma maneira de nos situarmos, na hoje, complexa cadeia globalizada de ensino.
Só que eu esqueci que o meu companheiro era, digamos assim, marinheiro de primeira viagem, em se tratando de sair de sua cidade e, ainda mais, de passar a noite fora de sua própria cama de vinte e poucos anos de habitual costume.
Para começar, o distinto colega, de cara, já me perguntou: o que eu levo? Boa pergunta, fiquei imaginando. Porém, me baseando no tempo que iríamos passar por lá e, pela própria experiência de viagens anteriores, eu fiz uma lista do que ele deveria levar para tornar a sua estada confortável, livre de algum contratempo.
Quando chegamos à cidade grande, eu percebi que o caro companheiro olhava os prédios com um assombro acima do normal. Perguntei-lhe o motivo de tanto espanto. Ele, não escondendo sua humildade (achei maravilhoso isso) me disse que nunca tinha visto tanta verticalidade em sua vida. Até a definição foi bonita, apesar de que, diante da natureza, o amontoado de blocos de concreto e cimento tornava a exuberância do lugar – um local paradisíaco – um intrincado (visto de cima) labirinto de curvas, retas e círculos sem um fim racional.
Finalmente, paramos onde iríamos ficar alojados. Providenciei, para nós dois, “o check in” de hospedagem, evitando um quarto com muitas pessoas. Explico: sempre quando vou à capital fico hospedado na casa do professor. E, lá, os quartos são coletivos, de muitos lugares. A moça da recepção, muito solícita, nos permitiu ficar num quarto sem nenhum hóspede ainda. Achei ótimo.
Bem, aqui começa, de verdade, o assunto sobre a crônica. Para início de conversa, meu companheiro de viagem quando abriu a sua “mala”, a metade dos objetos que trazia eram remédios. Sem brincadeira nenhuma: um pacote imenso, cheio de caixas de todas as cores, cartelas avulsas de comprimidos, ampolas de injeção, seringas (estranhei não ter o “garrote” para facilitar a aplicação), tubos de pomada, emplastos, bombinha de oxigênio, enfim, o que o nobre leitor imaginar, tinha.
Já fiquei cismado. Porém, como eu gosto de uma boa gozação, disse:
- Cara (o melhor nesse momento é não ser excessivamente educado na linguagem. Tem que se dá um toque de desapego, um coloquial tipo cheio de malandragem), qual é a sua? "Vais botá" uma farmácia ambulante no calçadão aí em frente?
Inocentemente (e antes de me dar uma resposta), ele colocou, em cima de sua cama, por ordem de “ingestão”, os medicamentos. Dava gosto de ver! Parecia um time de futebol. Verdade. Se fosse escalar, tinha um time pelas letras do alfabeto e outro, também, por classificação de sintomas.
- Raimundo, infelizmente eu tenho que viver atrelado a todos eles. Por exemplo: quando acordo pela manhã, eu tomo esses dois (mostrou-me uma caixa verdinha, em retângulo, e um potinho cheio de cápsulas coloridas – lindas!). Um serve para não sentir enjôo e o outro é para o estômago. Esses aqui (apontou para uns “cachetes” do tamanho de uma hóstia e para uma outra caixa com uma tarja preta) são para depois do café: um serve para controlar a diabetes e o outro é para aliviar a ansiedade, mas o que mais eu gosto de tomar são esses quatro aqui (olhei-os. Eram, todos, indicados para a hipertensão), pois são os que não deixam a minha pressão ir para as alturas, disse euforicamente.
Fiquei impressionado. Um arrepio passeou pela minha coluna – de baixo para cima – e veio se instalar nas pontas dos meus dedos, devido ao pensamento que tive. Para me desvencilhar dele, perguntei-lhe:
- E esses outros aqui, em séries de três, cada fila?
- Ah, esses são analgésicos – vai que eu tenha uma dor de cabeça! E se eu tiver uma febre alta (voltei a me preocupar quando ele falou, além da febre, a palavra “alta”), o antitérmico já está nas mãos! Não me descuido de jeito nenhum, veja: aqui o clima é mais frio que o de nossa cidade, certo? Por isso essas caixinhas (contei três – cada uma de uma marca e nomes diferentes) é para me prevenir de um resfriado e evitar uma gripe braba.
Percebi, então, que ainda restava uma série sem ser apresentada. Cutuquei, maldosamente, porém sem causar nenhum abalo no seu sistema nervoso. Vai que a pressão subisse ou ele sentisse um mal-estar!
- E esses? - perguntei.
- Sim. Esses são somente para me prevenir mesmo (fiquei matutando: será que os outros eram para quê?) dos acasos diários. São antiácidos, estimulantes e inibidores de apetite – tem vezes que eu preciso de um, pois não estou comendo nada e, tem vezes, que eu preciso do outro, pois estou comendo demais - disse.
Dei mais uma olhada, assim, de soslaio (precisavam ver aquele monte de caixas, cartelas, tubos, potes, emplasto, esparadrapo, algodão, etc. – Parecia um batalhão pronto para a guerra!) e resolvi não perguntar mais nada. Não pelo fato de ter acabado a escalação. Não. Ainda existia um time, todinho, na reserva. Mas, por precaução. Vai que eu começasse a me interessar por aqueles bichinhos redondinhos, tão coloridinhos, tão bonitinhos de se ver e com uma aparência tão gostosa de comer...
Recentemente, eu estive na capital do meu Estado, na companhia de um colega de profissão. Fomos à busca de novos conhecimentos e novos paradigmas educacionais – apesar de sabermos que a instituição escolar padronizada só se mantém firme, até hoje, por não ter, em seus muros de conhecimentos, um modelo definido de como promover uma educação sistemática, apesar das controvérsias – como forma de aprimoramento, claro, e, também, como uma maneira de nos situarmos, na hoje, complexa cadeia globalizada de ensino.
Só que eu esqueci que o meu companheiro era, digamos assim, marinheiro de primeira viagem, em se tratando de sair de sua cidade e, ainda mais, de passar a noite fora de sua própria cama de vinte e poucos anos de habitual costume.
Para começar, o distinto colega, de cara, já me perguntou: o que eu levo? Boa pergunta, fiquei imaginando. Porém, me baseando no tempo que iríamos passar por lá e, pela própria experiência de viagens anteriores, eu fiz uma lista do que ele deveria levar para tornar a sua estada confortável, livre de algum contratempo.
Quando chegamos à cidade grande, eu percebi que o caro companheiro olhava os prédios com um assombro acima do normal. Perguntei-lhe o motivo de tanto espanto. Ele, não escondendo sua humildade (achei maravilhoso isso) me disse que nunca tinha visto tanta verticalidade em sua vida. Até a definição foi bonita, apesar de que, diante da natureza, o amontoado de blocos de concreto e cimento tornava a exuberância do lugar – um local paradisíaco – um intrincado (visto de cima) labirinto de curvas, retas e círculos sem um fim racional.
Finalmente, paramos onde iríamos ficar alojados. Providenciei, para nós dois, “o check in” de hospedagem, evitando um quarto com muitas pessoas. Explico: sempre quando vou à capital fico hospedado na casa do professor. E, lá, os quartos são coletivos, de muitos lugares. A moça da recepção, muito solícita, nos permitiu ficar num quarto sem nenhum hóspede ainda. Achei ótimo.
Bem, aqui começa, de verdade, o assunto sobre a crônica. Para início de conversa, meu companheiro de viagem quando abriu a sua “mala”, a metade dos objetos que trazia eram remédios. Sem brincadeira nenhuma: um pacote imenso, cheio de caixas de todas as cores, cartelas avulsas de comprimidos, ampolas de injeção, seringas (estranhei não ter o “garrote” para facilitar a aplicação), tubos de pomada, emplastos, bombinha de oxigênio, enfim, o que o nobre leitor imaginar, tinha.
Já fiquei cismado. Porém, como eu gosto de uma boa gozação, disse:
- Cara (o melhor nesse momento é não ser excessivamente educado na linguagem. Tem que se dá um toque de desapego, um coloquial tipo cheio de malandragem), qual é a sua? "Vais botá" uma farmácia ambulante no calçadão aí em frente?
Inocentemente (e antes de me dar uma resposta), ele colocou, em cima de sua cama, por ordem de “ingestão”, os medicamentos. Dava gosto de ver! Parecia um time de futebol. Verdade. Se fosse escalar, tinha um time pelas letras do alfabeto e outro, também, por classificação de sintomas.
- Raimundo, infelizmente eu tenho que viver atrelado a todos eles. Por exemplo: quando acordo pela manhã, eu tomo esses dois (mostrou-me uma caixa verdinha, em retângulo, e um potinho cheio de cápsulas coloridas – lindas!). Um serve para não sentir enjôo e o outro é para o estômago. Esses aqui (apontou para uns “cachetes” do tamanho de uma hóstia e para uma outra caixa com uma tarja preta) são para depois do café: um serve para controlar a diabetes e o outro é para aliviar a ansiedade, mas o que mais eu gosto de tomar são esses quatro aqui (olhei-os. Eram, todos, indicados para a hipertensão), pois são os que não deixam a minha pressão ir para as alturas, disse euforicamente.
Fiquei impressionado. Um arrepio passeou pela minha coluna – de baixo para cima – e veio se instalar nas pontas dos meus dedos, devido ao pensamento que tive. Para me desvencilhar dele, perguntei-lhe:
- E esses outros aqui, em séries de três, cada fila?
- Ah, esses são analgésicos – vai que eu tenha uma dor de cabeça! E se eu tiver uma febre alta (voltei a me preocupar quando ele falou, além da febre, a palavra “alta”), o antitérmico já está nas mãos! Não me descuido de jeito nenhum, veja: aqui o clima é mais frio que o de nossa cidade, certo? Por isso essas caixinhas (contei três – cada uma de uma marca e nomes diferentes) é para me prevenir de um resfriado e evitar uma gripe braba.
Percebi, então, que ainda restava uma série sem ser apresentada. Cutuquei, maldosamente, porém sem causar nenhum abalo no seu sistema nervoso. Vai que a pressão subisse ou ele sentisse um mal-estar!
- E esses? - perguntei.
- Sim. Esses são somente para me prevenir mesmo (fiquei matutando: será que os outros eram para quê?) dos acasos diários. São antiácidos, estimulantes e inibidores de apetite – tem vezes que eu preciso de um, pois não estou comendo nada e, tem vezes, que eu preciso do outro, pois estou comendo demais - disse.
Dei mais uma olhada, assim, de soslaio (precisavam ver aquele monte de caixas, cartelas, tubos, potes, emplasto, esparadrapo, algodão, etc. – Parecia um batalhão pronto para a guerra!) e resolvi não perguntar mais nada. Não pelo fato de ter acabado a escalação. Não. Ainda existia um time, todinho, na reserva. Mas, por precaução. Vai que eu começasse a me interessar por aqueles bichinhos redondinhos, tão coloridinhos, tão bonitinhos de se ver e com uma aparência tão gostosa de comer...
Obs. Imagem da internet