Meninos bons de briga
Eu trabalho numa churrascaria nos fim de semanas. Fico na porta recepcionando os clientes e sorrindo para agradecer suas presenças.
Atrás de mim fica o parquinho para as crianças. É sempre uma festa. E quando vão embora, os pais têm que arrastá-las, e elas saem aos gritos, os mais agressivos, grudando na porta.
Em geral, pra mim não há problemas, de vez enquando aparece um pequeno pra me pedir alguma coisa, ou é um brinquedo que está errado, ou é uma goteira molhando o escorregador, ou a janela que abriu, ou o coleguinha que monopolisou o brinquedo. De repente, sinto alguém batendo na minha perna, olho pra baixo e vejo aqueles olhinhos pidões:
_Tia, a bolinha caiu lá em cima!
E eu olho para um lugar impossível de se alcançar. Existem milhões de bolinhas no chão, mas o dedinho minúsculo e gordinho aponta para aquele única, escolhida, amarela bolinha em cima do lugar impossível.
Porém, na maioria das vezes não tenho contato com as crianças, só de vez enquando dou uma olhada pelo vidro, pra ver se está tudo bem e vejo elas se divertindo. E sempre estão lá, felizes de escorregar e pular. Altamente sociáveis e amigáveis. E compartilham tudo.
Ontem, eu estava na porta, tranquila, esperando pelos clientes, quando de repente escutei um barulho de choque contra a parede de vidro. Primeiro, não dei muita atenção, mas na segunda vez eu olhei. Um garoto segurava a cabeço do outro contra o vidro. Então eu vi uma bochecha amassada, e o outro preperando um soco.
Meninos brigam, mas aqueles iam se matar. Quando o valentão viu que eu estava olhando, soltou o outro e o jogou longe.
Um tempo depois, os dois estavam se atracando de novo.
O que apanhava, só apanhava, e ficava caçoando do valentão, esse era "corajoso"(!?)
O outro parecia irritado, e avisava para ele parar, apontava o dedo e dizia alguma coisa, mas não tinha jeito, o outro ria, era o jeito bater.
Bati no vidro, e fiz que não com o dedo, pra tentar apaziguar momentaneamente ou os dois iam se machucar sério.
Mas um minuto depois e já estavam um por cima do outro.
Eu tinha que trabalhar. Voltei para minhas obrigações, e mais tarde reparei que brincavam normalmente, esquecendo aquele problema sério pelo qual tanto se batiam...
Ah... crianças...