UM PORTUGUÊS MODERNO

UM PORTUGUÊS MODERNO

Victor Jerónimo

Recife/Brasil

(ficção)

Nasci numa família monoparental ali prós lados da Laranjeira. Sou um produto dos tempos modernos sim senhor, não gostam?

Quando criança diziam que eu tinha um comportamento disfuncional hiperactivo, na escola era uma criança de desenvolvimento instável. Olhem que coisa boa já não me chamavam burro nem traquinas.

Lá em casa tinhamos duas auxiliares de apoio doméstico a quem eu fazia a vida negra e quando a mamã chegava a casa cansada dos colaboradores lá no centro de decisão nacional, ficava toda feliz da vida ao ouvir as queixas das auxiliares de apoio doméstico. Eu então pulava no sofá todo contente e dava gritos mais altos que o Tarzan em apoio à minha mãe, levando-me a que no dia seguinte o meu comportamento disfuncional hiperactivo fosse ainda mais hiperactivo.

Lá na Escola eu era o terror dos auxiliares da acção educativa, riscando paredes, partindo vidros e fazendo com que eles corressem atrás de mim para eu parar com estas traquinices de menino de desenvolvimento instável.Um dia fui com a mamã ao Porto de comboio, fomos na classe Conforto e apareceu por lá um delegado de informação médica a fazer olhinhos à mamã.

Quando chegamos ao Porto fiquei trancado no quarto a ver TV e a jogar "games" no "notebook" da mamã enquanto ela e o delegado de informação médica estudavam qual o melhor medicamento para uma possível interrupção voluntária da gravidez.

Fiquei todo lixado com essa estória de ficar ali encarcerado e quando voltamos a Lisboa fiz a vida negra à mamã para que ela não correspondesse aos olhinhos de um técnico de vendas.

Como eu sofria de iliteracia, na minha juventude implementei um grupo de jovens que desancavam à porrada outros grupos de jovens lá na Praça Publica.

Alguns anos mais e apaixonei-me por uma senhora muito fina que tinha a profissão de alterne e comecei a facturar em politicas fracturantes para gáudio da minha conta bancária.

Hoje a minha postura é pró-activa e mostrei a toda a gente que não sou um invisualzinho da vida. Quando alguém me chateia faço-me inauditivo.

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Nota: Baseado em um mail que circula na internet e cujo teor transcrevo aqui.

PORTUGUÊS MODERNO

A NOVA LÍNGUA PORTUGUESA

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos "afro-americanos", com vista a acabar com as raças por via gramaticalisto tem sido um fartote pegado!

- As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas domésticas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico" .

- De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos "passaram todos a "auxiliares da acção educativa".

- Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por "delegados de informação médica".

- E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".- O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez";

- Os gangs étnicos são "grupos de jovens"

- Os operários fizeram-se de repente "colaboradores";

- As fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas"e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais".

- O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.

- Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".

- A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra dapungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.

- Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo"

- Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação" , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; taisestudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável".

- Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual=.(O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-separa as regras gramaticais...)

- As putas passaram a ser "senhoras de alterne".

- Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticasfracturantes" e outros barbarismos da linguagem.

- E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a correcção política» e o novo-riquismo linguístico. Estamos lixados com este "novo português"; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress.

Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma "politicamente correcta".

E na linha do modernismo linguístico, como se chama uma mulher que tenta destruir a educação em Portugal? Ministra !

Victor Jerónimo
Enviado por Victor Jerónimo em 15/03/2009
Código do texto: T1487231
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