Tenho saudades de me apaixonar…
Decidi de uma vez por todas avançar na escrita simultânea de dois livros de prosa, o que me irá consumir imenso tempo, dado ser relativamente lento a escrever em prosa, embora as ideias já as tenha na cabeça e só espere a época certa para as colocar no papel. Ora essa época chegou, é agora, o que me vai obrigar a aprofundar ainda mais a vasta pesquisa que já tinha iniciado; milhares de imagens, centenas de páginas serão devoradas por mim, dado gostar de documentar aquilo que escrevo para que essa escrita seja o mais possível imagética, bem descritiva, para que quem me leia se sinta dentro da história, e para que a história seja tão minha como dessas pessoas.
Daqui a poucos meses vou tentar entrar na Universidade e assim, num prazo de ¾ anos passar a ter duas licenciaturas, porque gosto de estudar mas também por imperativos profissionais.
Ou seja, a minha vida que já é relativamente preenchida, em pouco tempo vai ser uma luta contra o tempo, o tempo vai ser o meu bem mais escasso.
E no entanto…
Já não me apaixono há uns tempos, e apesar da minha última paixão ter sido no mínimo desastrosa, sinto saudades daquela sensação inicial de andar com o coração nas nuvens e com a alma algures…Sinto saudades de sentir o coração a bater depressa demais e o espírito em suave e doce descontrolo…Sinto saudades de escrever com enorme e incontida emoção, a navegar nas asas da paixão, de achar que todos os dias são belos porque Ela existe na minha vida, de me sentir no paraíso quando ouço a voz dela ou quando me encontro e estou com Ela, e todos os deliciosos lugares comuns que acompanham as almas em estado de paixão, enfim sinto saudades de me sentir de certa forma vivo neste sentido…
No espaço de poucos meses uma relação vai ser quase proibitiva pois as minhas prioridades serão a minha vida profissional e estudantil, além da vertente literária que serei capaz de abrandar, de abrandar talvez, mas de abandonar nunca.
E assim olho para o tempo em que estudava ou trabalhava e me apaixonava, tempo em que era relativamente mais novo e que a conciliação de tudo ou era ou parecia possível…
Mas agora a realidade sobrepõe-se a tudo o resto…
Não deixei de ser um sonhador idealista, serei tal até morrer, mas tornei-me num ser mais racional, um pouco mais frio, e por isso essa saudade de me apaixonar vai esmorecer porque o tal tempo vai tornar isso quase impossível…
Ficam pois as memórias dos tempos de liberdade plena, saudades que alimentarão novas prosas, saudosismo latente que poderá brotar um dia, um dia, mas não hoje, não amanhã, nem depois de amanhã…
Do mal o menos, poupo-me às amarguras lancinantes do fim da paixão da sua dor, espécie de morte repetida demasiadas vezes, esse tipo de sentires que caem tão mal em mim um amante da vida e das coisas belas que ela tem para oferecer…
Mas quem sabe se, no final do percurso que agora começo, não descobrirei uma nova forma de felicidade, pois, como eu costumo dizer:
Afinal, quem pode adivinhar o futuro?
Mas definitivamente…
Sim, tenho saudades de me apaixonar…