A destruição de um ninho ( Cont. de A construção de um ninho )

Todo o dia ia olhar aquela obra construída com tanto desvelo. Lá estava ele, bem no meio do pé de acerola, entre os galhos mais altos; parecia intransponível. Os pais atentos sabiam o que queriam; lutaram com objetivo. Mas uma criança na sua inocente curiosidade- queria ver os passarinhos novos- em questão de segundos destruiu o que levou dias para ser construído.

Quando percebi já era tarde demais. O ninho estava em outro lugar, todo retorcido, como que mãos tivessem tentado recolocá-lo... Frustração, raiva, desolação me invadiram naquele momento. Tentei consertar, porém há coisas que depois de quebradas, desmanchadas, machucadas, mexidas, não têm conserto, não têm jeito, não há como serem refeitas....Assim aconteceu com o ninho.

Passei dias esperando que os habilidosos pais voltassem. Quem sabe tentariam mais uma vez...foi em vão. Percebi que não basta boa vontade, nem basta apenas quer, nem tão pouco usar pensamento positivo, nem é suficiente acreditar. Há coisas que nos sobrevém, estão além das nossas mãos; dentro de segundos, modificam toda nossa vida.

Tomo por exemplo: Ninguém quer, busca, sonha ou aceita com passividade a partida de ente querido. De repente, toda família sai para uma viagem, ou um passeio na casa de alguém; um desastre acontece; todos morrem. Talvez cheguem até ser socorridos. O único que fica; torce, pensa positivo, acredita que tudo vai dar certo, deseja de todo coração que o quadro mude pra melhor e, nada daquilo acontece. Tudo desfeito. Tudo quebrado. O que fazer? Desistir? Deixar de querer? Deixar de acreditar? Deixar de sonhar?

Os pais-passarinhos deixaram-me uma lição: Foram reconstruir. Foram recomeçar. Por que desistir se nem tudo está perdido? Por que parar se a caminhada apenas começou? Não deu certo? Pare, veja onde está o erro; depois junte os pedaços que restaram. E se não houver pedaços, do nada faça nascer algo. Há uma sementinha guardada em cada coração. Enquanto houver vida, ela estará bem escondidinha para fazer nascer o que nos foi tirado à força.

Eu não quis que aquilo acontecesse. Se eu não contribuí, porém aconteceu,devo aceitar o que não posso mudar. Porém devo continuar lutando. Consciência tranqüila, é sinal de sementinha em ação, então devo continuar buscando os construtores. Onde houver um construtor devo procurar me achegar para descobrir se ali há um construtor de vidas; se for, esse deve ser meu companheiro de jornada. Porque nessa vida o que realmente vale é o que estamos construindo, de que forma estamos construindo, quais os instrumentos e materiais estão sendo usados para essa construção; e o mais importante de tudo é se contamos com a aprovação do Grande Arquiteto.

E se não houver mais forças? Olhe pra cima. Porque acima das nuvens escuras há um sol que não deixa de brilhar. Acima de todos os nossos impossíveis há Um que nem dorme nem cochila. Basta chamar que Ele responde. Basta dizer: Está doendo; Ele chega com o bálsamo.

O ninho foi desfeito, mas eu continuo acreditando nos construtores de vida; continuo querendo, e buscando os construtores que nunca deixaram de construir mesmo vivendo em meio às ruínas.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 13/03/2009
Reeditado em 18/03/2009
Código do texto: T1484582
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