VOU DE ÔNIBUS
Conheci uma bela moça no ônibus a caminho do teatro – eu iria ao teatro, ela ao shopping -, nos apaixonamos, namoramos, trocamos juras de amor. Ela me deixou... me disse que não queria viver andando de ônibus. Me trocou por um cara que tinha um carro – um Monza movido a gás natural. Ele era gordo e fedido... ela jogou na minha cara que me deixou apenas porque eu não tinha um carro para levá-la ao shopping. Sim, mas se não fosse o ônibus nós não teríamos nos conhecido...! Se eu tivesse um carro, não a teria conhecido – o ônibus foi nosso cupido e nicho de romance... ela foi uma covarde, trocou o amor por uma lata velha e quatro pneus. E para ir ao shopping, tem o 07, 08, 24, 26, 33, 44, 35, 63, 66, 31, 73... “ouxe”, 99 % da frota do transporte público leva-nos aos shopping’s da cidade. Ah... ainda tem o trem, o metrô e as carroças movidas a jumento que saem do mercado central.
Mas não tenho saudade dela não...ela gostava tanto de shopping que meu cheque especial ainda está no vermelho!
E agora, a crise mundial chegou! Os carros serão vendidos, o preço da gasolina aumentará, os shoppings fecharão, eu ficarei desempregado, meu cheque especial irá morar no SPC e no SERASA... em Hong Kong uma comentarista chorou com pena dos médios e pequenos investidores que perderam tudo com a queda das ações do banco HSBC...
...os ônibus irão ficar superlotados, você vai chegar e pedir o meu acento. Eu vou dizer:
- Moça, espere um Monza passar!