Definindo o amor

Numa roda de amigas, o assunto que rolou foi o amor. Ninguém melhor do que mulher para definir este sentimento, eu achava. Papo vai, papo vem... Eu me mantive calada (guardando a minha opinião para o desfecho final).

E o amor foi sendo gerado. Uma dizia que era gostar demais de alguém. A outra acrescentava que era gostar tanto de alguém “ao ponto de”. Amor é uma amizade profunda, companheirismo, ser fiel, estar junto em qualquer situação, enfrentar qualquer barra. Amor para a maioria era respeito, cumplicidade, harmonia. Fui ficando cada vez mais quieta, pensando se deveria em algum momento me pronunciar. Travei então uma discussão com o meu eu interior, só para rever os meus conceitos:

“Estas definições são profundas, romanticamente lúdicas, entretanto simplistas demais. O amor até deveria ser tudo isso, objetivamente falando, porém este sentimento é deveras complexo para ser tão definível. O homem ao ser criado talvez tivesse na sua composição inicial a verdadeira essência. Porém a história conta que no momento da criação, havia um réptil do mal (a tal serpente tentadora) que acrescentou aos recém criados, outros sentimentos. E o amor, aquele amor puríssimo, inevitavelmente, foi alterado em sua fórmula inicial e acabou perdendo o legítimo teor. O amor contemporâneo, (em que se espera que as serpentes encontrem-se no zôo), tem muito de egoísmo, conveniência, comodidade e muito pouco de altruísmo.”

Se tivesse externado a minha opinião às colegas, com certeza criaria um ringue de opiniões, cheio nocautes de desaprovação e discórdia. Então continuei de mim para mim mesma:

“O amor de tão debatido e perseguido, modificou-se tanto ao longo da história, que raramente a essência verdadeira (desejada pelo criador) veio à tona. Ninguém nunca ousou trocar-lhe o nome, mas impuseram ao amor características e responsabilidades que não lhe são inerentes. Mata-se por amor. Mutila-se por amor. Suicida-se por amor. Poda-se por amor. Deprime-se por amor. Sofre-se por amor. Calunia-se por amor. Vinga-se por amor. Tortura-se por amor... Que amor é esse? Refiro-me ao amor incondicional, que não é egoísta, que não é rancoroso, que perdoa, que compreende, que motiva, que se alegra. Apesar de, além de, acima de .

Me atrevi finalmente, a inquirir ao grupo das minhas amantíssimas amigas :

- Este amor que acabaram de conceituar suportaria tudo? Escolhas diferentes de opinião, de estilo de viver, de vestir, de morar, de religião, e até mesmo de preferência sexual? Este amor estaria pronto para qualquer revés, mesmo o seu próprio fim?

-Não é bem assim! - Clamaram em coro. -Têm que haver algumas condições.

- Sinto lhes dizer que o verdadeiro amor é tudo, menos condicional. Penso que a única relação que se aproxime do amor (original), tenha sido a de Jesus e a de uma mãe por seu filho. Mesmo assim cerceada por várias exceções. Desta forma, o que resta é viver este amor (pirata) até que a morte os separe. A morte do amor é claro, não dos amantes.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 13/03/2009
Reeditado em 13/03/2009
Código do texto: T1484248