A nordestina
canção do Joubert
1. Nos meus, nunca esquecidos, tempos de serenatas, os seresteiros tinham que incluir, no seu repertório, a canção Maringá, do talentoso Joubert de Carvalho. As meninas adoravam; e nós, árdegos mancebos da romântica Fortaleza dos anos 1950, também.
2. Muita gente ainda pensa que a canção Maringá é uma homenagem do seu compositor à simpática cidade paranaense, que tem este nome.
3. Não. Não é. O Paraná é que homenageou a "cabocla Maringá", dando a uma de suas cidades o nome da retirante nordestina que o cancioneiro criou, e o povo consagrou.
4. O escritor João Antônio, no seu livro Dama do Encantado, lembra como surgiu a canção.
1930 - Convidado por Joubert de Carvalho, o paraibano José Américo de Almeida, à época poderoso ministro de Getúlio Vargas, foi à casa do compositor de "Pierrô", de quem se dizia um ardoroso fã. Esqueceu que era ministro, e se entregou a uma seresta, que invadiu a madrugada.
5. Dias depois, Rui Carneiro, conterrâneo do ministro, e seu Oficial de Gabinete, pediu ao Joubert uma canção sobre o Nordeste, naquele momento, "calcinado e penando miséria". E o compositor, que era médico, para conseguir (e conseguiu) um emprego público, começou a trabalhar a cantiga.
6. No primeiro momento, o criador de Zingara pensou numa canção cantando a cidade de Areias, terra natal do influente ministro do Doutor Getúlio Vargas. Desistiu. Alegou, que "Areias não era musical". Restou-lhe compor em cima da cidade do Rui Carneiro, a sonorosa Pombal.
7. Mas Joubert achava, que em toda modinha devia entrar uma mulher. Tinha, pois, que botar, na canção pro Zé Américo, uma Maria. E essa Maria ele foi buscar na pequenina Ingá, cidade paraibana onde, segundo lhe informara Rui Carneiro, "a seca castigava mais tirana".
MARIA do Ingá. E "de Maria do Ingá, fez-se Maringá" que, na primeira estrofe, diz: - "Foi numa leva/ Que a cabocla Maringá/ Ficou sendo a retirante/ Que mais dava o que falá."
8. Andaram alardeando, que a letra de Maringá não era do Joubert de Carvalho e sim do poeta Olegário Mariano. Mas o saudoso jornalista e compositor David Nasser, no seu livro Parceiro da Glória, confirma que os versos são do Joubert, e não do poeta das cigarrinhas.
9. Conheci a canção do Joubert muito antes das serenatas cearenses. Maringá era exaustivamente cantada nos recreios noturnos do meu seminário, em noites de serestas.
É, vez em quando, o reitor do Colégio Seráfico de Ipuarana, permitia que seus seminaristas aproveitassem os luares da serra da Borborema (onde fica o seminário) e fizessem suas serenatas. E a mocidade franciscana atacava de Luar do sertão; de A casa branca da serra, e mui timidamente, de Maringá.
10. Timidamente? Sim, porque falar um nome de mulher nos claustros e clausuras sisudos do meu tempo de "fradeco", idos de 1950, era perigoso!...
Mas muitos seminaristas, driblando a vigilância do padre mestre, guardavam, sob sete chaves, suas "maringás"!
Uns, esqueceram-nas, quando ainda palmilhavam o pedrento chão que leva ao sacerdócio; outros - os "não escolhidos" -, a elas se renderam: deixaram o seminário, e hoje formam o valoroso exército dos ex-seminaristas casados.
A esse exército eu pertenço; há mais de quarent´anos, caminho com Ivone ao meu lado.
11. Para que dúvidas não pairem, juro por Deus que não foi ela a responsável pelo meu adeus ao seminário. Só os que não conhecem a nossa história, minha e dela, atribuem-lhe este "pecado"...
12. Por que escrever sobre a conhecidíssima canção do Joubert? Dirão que é coisa de saudosista. Não é verdade. Faço-o, para me reencontrar com a boa música popular brasileira, cansado de ouvir tanta asneira, no rádio e na TV.
13. Escrevi sobre o óbvio? Escrevi. E daí? Sou capaz de apostar, que, quem conseguiu ler estes rabiscos, está feliz da vida... Queira Deus, que não seja este cronista, um seresteiro aposentado, o último a re-contar como nasceu Maringá, a nordestina canção do Joubert.
canção do Joubert
1. Nos meus, nunca esquecidos, tempos de serenatas, os seresteiros tinham que incluir, no seu repertório, a canção Maringá, do talentoso Joubert de Carvalho. As meninas adoravam; e nós, árdegos mancebos da romântica Fortaleza dos anos 1950, também.
2. Muita gente ainda pensa que a canção Maringá é uma homenagem do seu compositor à simpática cidade paranaense, que tem este nome.
3. Não. Não é. O Paraná é que homenageou a "cabocla Maringá", dando a uma de suas cidades o nome da retirante nordestina que o cancioneiro criou, e o povo consagrou.
4. O escritor João Antônio, no seu livro Dama do Encantado, lembra como surgiu a canção.
1930 - Convidado por Joubert de Carvalho, o paraibano José Américo de Almeida, à época poderoso ministro de Getúlio Vargas, foi à casa do compositor de "Pierrô", de quem se dizia um ardoroso fã. Esqueceu que era ministro, e se entregou a uma seresta, que invadiu a madrugada.
5. Dias depois, Rui Carneiro, conterrâneo do ministro, e seu Oficial de Gabinete, pediu ao Joubert uma canção sobre o Nordeste, naquele momento, "calcinado e penando miséria". E o compositor, que era médico, para conseguir (e conseguiu) um emprego público, começou a trabalhar a cantiga.
6. No primeiro momento, o criador de Zingara pensou numa canção cantando a cidade de Areias, terra natal do influente ministro do Doutor Getúlio Vargas. Desistiu. Alegou, que "Areias não era musical". Restou-lhe compor em cima da cidade do Rui Carneiro, a sonorosa Pombal.
7. Mas Joubert achava, que em toda modinha devia entrar uma mulher. Tinha, pois, que botar, na canção pro Zé Américo, uma Maria. E essa Maria ele foi buscar na pequenina Ingá, cidade paraibana onde, segundo lhe informara Rui Carneiro, "a seca castigava mais tirana".
MARIA do Ingá. E "de Maria do Ingá, fez-se Maringá" que, na primeira estrofe, diz: - "Foi numa leva/ Que a cabocla Maringá/ Ficou sendo a retirante/ Que mais dava o que falá."
8. Andaram alardeando, que a letra de Maringá não era do Joubert de Carvalho e sim do poeta Olegário Mariano. Mas o saudoso jornalista e compositor David Nasser, no seu livro Parceiro da Glória, confirma que os versos são do Joubert, e não do poeta das cigarrinhas.
9. Conheci a canção do Joubert muito antes das serenatas cearenses. Maringá era exaustivamente cantada nos recreios noturnos do meu seminário, em noites de serestas.
É, vez em quando, o reitor do Colégio Seráfico de Ipuarana, permitia que seus seminaristas aproveitassem os luares da serra da Borborema (onde fica o seminário) e fizessem suas serenatas. E a mocidade franciscana atacava de Luar do sertão; de A casa branca da serra, e mui timidamente, de Maringá.
10. Timidamente? Sim, porque falar um nome de mulher nos claustros e clausuras sisudos do meu tempo de "fradeco", idos de 1950, era perigoso!...
Mas muitos seminaristas, driblando a vigilância do padre mestre, guardavam, sob sete chaves, suas "maringás"!
Uns, esqueceram-nas, quando ainda palmilhavam o pedrento chão que leva ao sacerdócio; outros - os "não escolhidos" -, a elas se renderam: deixaram o seminário, e hoje formam o valoroso exército dos ex-seminaristas casados.
A esse exército eu pertenço; há mais de quarent´anos, caminho com Ivone ao meu lado.
11. Para que dúvidas não pairem, juro por Deus que não foi ela a responsável pelo meu adeus ao seminário. Só os que não conhecem a nossa história, minha e dela, atribuem-lhe este "pecado"...
12. Por que escrever sobre a conhecidíssima canção do Joubert? Dirão que é coisa de saudosista. Não é verdade. Faço-o, para me reencontrar com a boa música popular brasileira, cansado de ouvir tanta asneira, no rádio e na TV.
13. Escrevi sobre o óbvio? Escrevi. E daí? Sou capaz de apostar, que, quem conseguiu ler estes rabiscos, está feliz da vida... Queira Deus, que não seja este cronista, um seresteiro aposentado, o último a re-contar como nasceu Maringá, a nordestina canção do Joubert.