Sexta-feira, 13
A moça atendeu o telefone mal-humorada e com ar enfadonho:
-Alô?
- De onde fala?
-Quer falar com quem?
- De onde fala?
- Vá para o diabo que o carregue! - E bateu o telefone.
Voltou para suas ocupações domésticas.
- Droga de vida! - falou ela com seus botões. - Tanto trabalho pra se fazer e ainda por cima esse telefone interrompendo...
Mal acabou de pensar alto, escutou de novo o trintrim estridente da campainha do telefone. Resmungando pragas, foi atender.
-Alô?
- De onde fala?
Reconheceu a voz que se comunicara minutos antes.
- Já mandei pra o diabo que o carregue e, se ligar de novo, vou mandar ir pra um lugar pior, ouviu? - bateu o telefone com mais força.
Na cozinha, dava pancadas nas panelas e na louça amontoada sobre a pia, desde a noite anterior, quando sua patroa viajara. Começou a lavar os copos e, por azar, a mão ensaboada não conseguiu segurar um deles que caiu e se espatifou no chão.
- Hoje acordei com o pé esquerdo - ela pensou alto de novo.-Quem dera se eu recebesse um prêmio no sorteio da Loja May.- Olhou o relógio.- Acho que já foi feito o sorteio. Estava anunciado para duas horas antes.
Lavava a louça, divagando. Seu pensamento estava nos úteis prêmios anunciados, eletrodomésticos caros. Sonhava tanto que, aos poucos, o mau humor foi desaparecendo, dando lugar a um sorriso solitário que, vez ou outra, era esboçado por sua boca.
- Trim...im...im...- a campainha do telefone tocou interrompendo seus pensamentos.
- Maldito telefone! Dia aziago. Será que hoje é sexta-feira, 13?-Andou rápido para atender o telefone.- Alô.
- É da casa da dona Marta?- disse a voz do outro lado da linha e que ela reconheceu como a dos telefonemas anteriores.
- Sim.
- Poderia falar com ela?
- É a mesma.
- D. Marta, aqui é da Loja May. Tentamos nos comunicar com a senhora mas nos atenderam mal e desligaram o telefone.
Ela engoliu em seco sem nada dizer.
- Avisamos à senhora que foi uma das contempladas no sorteio de nossa Loja. Receberá uma TV digital, 40 polegadas, logo mais em sua residência. Vamos marcar a hora da entrega e...
A moça soltou o fone que ficou pendurado. Sentou-se rápida para não cair e seus ouvidos captavam longe a voz que ainda estava na linha:
-Alô! Alô! Alô!...
Correu e pegou o fone de novo:
- Alô. Desculpe, moço. O susto foi grande, precisei respirar um pouco. Pode falar.
Acertou-se a hora para a entrega e a moça desligou o telefone. Deu saltos na cozinha e correu para o calendário na parede.
- Essa data merece ser anotada. Bendito telefone!
Pegou um lápis e, ao aproximar-se do calendário, arregalou os olhos. Era sexta-feira, 13.
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