Um viés da loucura

Um viés da loucura

Quando menina via passar na rua quase todos os dias, um homem franzinho de olhar perdido, pele curtida pelo sol, cabelos ao vento e sempre repetindo uma mesma frase sem nexo sem conexão alguma, caminhava lento como se não tivesse forças nem física, nem mental, nem afetiva, nem moral.

Há cada cinco dez passos, repetia: uma coisa é uma coisa! Outra coisa é outra coisa! Era motivo de chacota, de brincadeiras de mau gosto pelas crianças e adolescentes, os adultos com certo ar de sabedoria e arrogância diziam: é um pobre louco!

Nunca conheci ninguém com a preocupação, ou algum interesse em saber se aquele homem tinha uma historia, uma família, dores amores, era com se tivesse surgido do nada, isso me angustiava, não tinha medo dele como outras pessoas, mesmo quando de repente ao virar uma esquina dava de frente com ele, sentia um arrepio procurava sua mirada, mas ele pareceria que não enxergava ninguém, nada.

A impressão que me causava e me assustava era que esse homem tinha uma perda de referencias, de sentimentos, de pertencimento a algo ou alguém o que lhe ocasionara essa alienação, essa passividade e essa perda do desejo de viver. Sempre me questiono será que as verdades e a racionalidade da vida humana nos pode levar a loucura, só sei que este homem seguiu sua caminhada solitária, sem que ninguém procurasse saber de onde vinha, para onde ia e o pior ele próprio não se reconhecia.

Só depois de muitos anos de idas e vindas, mudanças e transformações, amores perdas e alegrias é que consegui ter uma percepção maior do drama daquele homem e de que em algum momento de nossas vidas, uma coisa é uma coisa! Outra coisa é outra coisa! Nem tudo é loucura!

Ouvi em algum lugar, alguém dizer: “Tragédia não é quando o homem morre, é algo que morre dentro do homem ainda quando está vivo”

Maria