Era o bicho (literalmente)
Em 1960 meus pais, já com 8 filhos, saíram de Santa Catarina onde moravam e, com o pouco que possuíam lotaram um pequeno caminhão de sua propriedade, dirigiram-se para o Paraná, na região de Palmas, mais propriamente nas proximidades do Rio Iguaçu, interior do município. Neste tempo, para o lugar que se dirigiram, as estradas nem poderiam ser tratadas como tal, não passavam de pouco mais que carreiros.
Compraram certa quantia de terreno e começaram os trabalhos para o local tornar-se habitável que, com o passar do tempo, serviu de modelo para muitos, pois ali foi construído, alem da moradia, um moinho para moagem de cereais, paióis para guarda da produção, chiqueiros, currais e inédito na região, foi formado um parreiral que com alguns anos já era possível a produção de vinho.
Mas foi no primeiro ano desta verdadeira epopéia que eu nasci, naquele imenso sertão, onde era comum a presença de onças pintadas e pumas (chamados de leões baios), muitos animais domésticos foram por eles devorados.
Certamente que não lembro, mas contam que eu dificilmente dormia a noite, sobressaltado com qualquer barulho acordava os outros gritando: É o bicho, é o bicho!
Ainda hoje retornando ao local fico impressionado pela paisagem composta de morros e canhadões e pasmo com a coragem de meus pais por terem ido morar naqueles confins há quase 50 anos atrás e não é de duvidar que alguns bichos ainda estejam por lá.