Livin' in America - Times Rivais

Eu e minha esposa adoramos assistir ao programa "Troca de Esposas", desde a época da TV a cabo, quando a versão britânica (Wife Swap) passava no People & Arts, depois na versão americana da Fox (Trading Spouses), e agora na versão brasileira, pela Rede Record.

As trocas de esposas tencionam causar um choque, levando uma esposa para uma outra realidade totalmente diferente - uma rica em casa pobre, ou uma roqueira numa casa de conservadores, e daí por diante.

A razão de gostarmos deste programa é muito simples: apesar de todas as diferenças culturais e sócio-econômicas, podemos perceber que a aspiração das pessoas é, em essência, sempre a mesma, ser feliz.

No entanto, o último programa que assistimos me incomodou um pouco. A troca de esposas feitas foi entre mãe de uma família de corintianos roxos para outra de palmeirenses fanáticos. Tudo na casa das duas famílias se remetia aos times que eles torcem e uma das mães, após a troca, quase foi linchada na quadra do time rival.

Não gosto de futebol, não assisto e só joguei um pouco quando eu era criança porque sentia que tinha de gostar do esporte para poder me enquadrar. Por isto, nunca entendi este fanatismo doentio pelo futebol, muito menos a agressividade contra os torcedores de times rivais.

Estudei à noite, durante uma época, e lembro-me que, às quarta-feiras, nós éramos liberados das aulas mais cedo para evitarmos de nos encontrar com as torcidas que deixavam os estádios. No entanto, como eu morava um pouco longe, sempre acabava passando na frente do Couto Pereira (estádio do Coritiba) e o ônibus no qual eu estava terminava apredejado. Era aquela comoção: todo mundo se jogando no chão, vidros estilhaçados, brigas de torcidas nas ruas. Confesso que isto não aumentava minha simpatia, nem pelo futebol, nem pelos torcedores.

Só que o choque maior foi, para mim, depois que vim para Nova York.

Ir ao estádio com a minha esposa é uma experiência emocionante, pois ela não entende muito das regras dos jogos (convenhamos que as do jogo de beisebol, por exemplo não são das mais auto-evidentes) e também não sabe diferenciar os times, por isto, ela aplaude para toda jogada bonita, seja do time da casa, seja do time rival.

Quando fomos assistir aos Yankees foi assim, o mesmo aconteceu no jogo da WNBA (basquete feminino) com as meninas do NY Liberty jogando contra as de Atlanta, e o mesmo também aconteceu no jogo da NBA, Knicks contra Bobcats.

Em todas estas circunstâncias, nós estávamos sentados ao lado de fãs dos times e nem por isto ouvimos uma única palavra, ou xingamento, ou ato de violência, por minha esposa estar torcendo para todo mundo. Aliás, na hora de comprar os ingressos, sequer há uma diferenciação de assentos, algo como: time da casa dum lado, time rival do outro. Simplesmente isto não é necessário, pois as pessoas - homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos - estão todas lá para se divertir, não para arranjar briga, não para ver sangue rolar.

Então eu fiquei pensando nas razões que fazem do futebol um esporte tão apaixonante a ponto de forçar as torcidas à uma verdadeira guerra (eu jamais ouvi dizer de briga entre as torcidas de Kasparov e Karpov durante um jogo de xadrez, por exemplo).

E isto não é algo que ocorre apenas no Brasil, mas existem casos na Inglaterra - quem não se lembra dos Hooligans? - e em vários outros países.

Será que os esportes tipicamente americanos, como o basquete e o beisebol, são menos cativantes? Ou será que é algo cultural?

Por que é que minha esposa pode torcer para o Charlotte Bobcats em meio a tantos torcedores do Knicks e voltar viva pra casa, enquanto que um palmeirense corre risco de morte se dar de cara com um bando corintianos (e vice-versa)?

Está aí uma resposta que eu gostaria de ter...