Meus cachos

Varei anos me apresentando ora de cabelos crespos, ora lisos, conforme a ocasião. Quanto mais solene, mais lisos deviam estar.

Finalmente chegou o dia em que o mundo descobriu alguma beleza nas ondas e cachos tão desprezados. Os cabeleireiros, imediatamente, começaram a oferecer nova modalidade de tratamento: o suporte. De início não entendi bem o que significava, pensei que se tratasse de algo para fazer o penteado durar mais. Nada disso. Percebi que o suporte não passava da tradicional permanente, agora renovada.

Felizmente não precisei desse truque. Pude, enfim, exibir orgulhosa minha cabeleira ao natural.

Por esta época a cantora Maria Bethânia fazia sucesso, e se apresentava com os cabelos crespos, armados e repartidos ao meio. Não pensei duas vezes. Imitei-a. Foi a glória! Sucesso em qualquer lugar!

Um dia, uma colega francesa perguntou se eu fazia permanente. Respondi que não, que eu “tinha” permanente. Ela e outras que me rodeavam não entenderam. Pensaram que eu errava o verbo.

Então, para que atinassem que meus cachos eram de fato permanentes, tive que lhes dar maiores explicações... de natureza gramatical, e não cabelal!