Nas lonjuras do Tocantins
Nas lonjuras do Tocantins, o tempo de tão quente, o sol radiante, faz com que o forasteiro, despercebido do clima, franja o testa que alumia no sol das duas da tarde. Hora ou outra aquele forasteiro leva sua camisa até o rosto para enxugar seu sofrimento com um gosto salgado.
As lonjuras do norte do Tocantins. Cidades pacatas, povo humilde e hospitaleiro, apreciam uma suave conversa com o vizinho ou mesmo do vizinho ou de quem passa naquele momento. O papo dos finais de tardes. O desgaste da língua na vida do outro. As comadres não perdem o babado sobre aquele moço novato na cidade ou mesmo daqueles que injustiçadamente se embriagaram na noite e amanheceram no relento das ruas. Tudo é motivo de comentários. Se o sol está quente, aquela pobre arvore serve de abrigo aquele grupo de jovens que deserdam o trabalho e vive como andarilhos pelas sombras. Isto é o que chamam de “rádio pião”. Os grupos de novos e velhos que dão notícias de tudo que acontecem nas cidadezinhas. O povo do “fulano disse que disse”. O mais importante é o Fulano e o Cicrano. O fuxico vale mais que as notícias do jornal nacional.
Tardezinha é sempre um momento de “reflexão”. Até mesmo a igreja é ponto de “reflexão”. Seja do fuxico ou de oração. Ô vida tranqüila, povo hospitaleiro e sol ardente. Ô calor ferrenho das lonjuras do norte do Tocantins. As carecas iluminadas no sol refletem bem a vida do sertanejo trabalhador de roça e alguns aposentados que manejam o seu dinheiro para as pequenas farmácias a fim de viverem um pouco mais sobre aquele sol tenebroso. Às vezes, em alguns aparenta terem levado um banho de óleo ao sol. Com tanta emissão de CO2 na atmosfera as arvores ainda sobrevivem e servem como um refúgio ao pobre sertanejo. Nas lonjuras de todo o Norte brasileiro.