De qual é professor?
- De qual é professor?
O senhor ta me tirando?
Disse ele sorridente.
Não foi surpresa nenhuma este tipo de linguagem usada pelo aluno Kelvin Cássio na sala de aula, mesmo assim, o som destas palavras penetrou em meu subconsciente e fizeram com que a mente levasse-me nas asas do tempo e o passado navegou pelas ondas bravas da história para se fazer presente.
Tinha apenas dez ou onze anos de idade, não sei ao certo, o que sei é; depois de ouvir um não da professora ao pedido - Deixe me ir ao banheiro? Resolvi demonstrar que não estava contente com aquele não, mas fui parar na secretaria da escola; pesava contra-me o fato de ter urinado no fundo da sala de aula. Rebeldia, revelia, quantos devaneios de um menino desorientado, só não sabia eu que aquela atitude não seria a única.
Ainda recordo o dia em que juntamente com meu primo Cleyton colocamos três bombinhas em um buraco nos tijolos de uma residência próximo da Escola Municipal Pedro Ferreira de Alencar na cidade de Imperatriz-Ma, escola onde estudávamos; as bombinhas fizeram um estrago além do que esperávamos, no entanto não esperamos para ver o tamanho do estrago, mas como não eu sei, só sei que fomos descobertos, certo mesmo está a Bíblia Sagrada quando diz - “Não há nada encoberto que não seja revelado”, como concertarmos o buraco se éramos apenas dois desafortunados adolescentes e não tínhamos como reparar os danos feitos pela explosão, muito menos nossas sofridas mamães, mas felizmente nosso avô mandou um pedreiro tampar o buraco aberto na parede da dita casa, e nós?
Nós pagamos como uma criança sempre pagava por sua traquinagem, com algumas lapadas de cinto.
Contudo, o pior ainda estava por vim.
Certo dia ao ir onde todos os meninos da vizinhança se reuniam para jogar bola, em um campinho deste que se encontra em qualquer cidade do Brasil; “sem grama, alambrado, mas com muita lama e uma galera disposta a disputar uma pelada”. Porém antes de chegarmos ao campo tínhamos de passar por um caminho estreito com mato de um lado e de outro, foi neste caminho que encontrei o Carlinhos; provavelmente seu nome verdadeiro seja Carlos, não sei o motivo do diminutivo no seu nome, mas sei que ele estava sentado sobre uma palmeira de babaçu e fumava um cigarro, ao vê-lo com tamanha posse, a fissura de um trago no “maldito cigarro” tomou contar de mim. No entanto logo me aproximei e percebi que o cigarro era diferente dos que eu já havia fumado, cheiro forte e enrolada em um papel retirado de dentro da carteira de cigarros, o cujo é denominado de “seda” “leda” e etc. Ainda assim disse:
– Me dar um trago?
– Isto não é cigarro seu prego, disse ele. Porém eu relutei:
– Que nada, passa a bola?
Naquele dia a única bola que tive contato foi com a bola de fumaça daquele baseado. Não joguei futebol, mas ali fumei maconha pela primeira vez; não sabia eu; contudo foi o maior erro que já pude cometer, pois a maconha me levou as outras drogas, as drogas ao tráfico e a outros delitos do submundo, submundo este que quase me levou a vida.
Está muito vivo em minha memória, quando minha querida mãe estava costurando alegremente na sala de nossa pobre casinha, e eu?
Eu degustar uma manga rosa, bem sentado, trocando idéias com a coroa, quando surpreendentemente três policiais civis adentraram pela porta da sala gritando:
– Não corra vagabundo!
Quando aquelas vozes graves zuniram em meus tímpanos, um calafrio desregulou meu aparelho urinário instantaneamente, o medo foi tamanho, nem percebi que fiquei todo molhado; não teve jeito, aqueles policiais de armas em punho rederam-me e sem perda de tempo colocaram as algemaram em meus frágeis braços e levaram-me com tapas e pontapés até a viatura que ficará estacionada estrategicamente alguns metros de distância da nossa pobre casinha. Tudo aconteceu tão repentinamente que nem pude ver os prantos da minha mãe, assim nesta penúria estava eu sendo preso pela primeira vez e merecidamente, já que acusação de arrombamento procedia.
Já em liberdade decidi que o melhor a fazer seria deixar a casa da minha mãe, para não ver as cicatrizes da sua alma refletida em seu olhar. Então resolvi mergulhar nas ondas obscura e incerta do crime de uma vez bem distante dos seus olhos.
Assim foi, até que um dia, já com a idade de dezessete anos, durante a realização de um assalto, lá mesmo na cidade Imperatriz, eu fui surpreendido com um tiro de espingarda calibre 12, disparado por um segurança, “justamente de uma escola”. Ferido, levado para o hospital São Rafaela onde fui socorrido e medicado, logo fiquei sabendo através dos Médicos que me receberam naquela manhã de 21 março de 2004, que um dos 17 caroços de chumbo que me alvejaram tinha cortado minha cornia esquerda, e com isto a perda da visão esquerda seria inevitável, ainda estava com varias lesões pelo corpo, inclusive o pulmão perfurado.
É eu estava entre a vida e a morte!
No entanto, sobrevivi e vir os dias passarem e o crime era a única forma de sobrevivência que eu conhecia, até que no mês de março do ano de 1997, tive uma oportunidade excepcional na Escola Maria da Silva Nunes na cidade de Paragominas-Pa.
Hoje aqui estou despertando com as lágrimas frias no rosto, tentando mudar o destino de um menino que um dia eu fui. Kevin, com seu jeito peculiar de andar e falar me lança em um desafio real.
Quando desperto deste momento de transe, me percebo um educador tentando motiva este aluno peculiar a permanecer freqüentando as aulas e manter se longe do caminho obscuro que um dia eu caminhei.
Esta Cronica foi premiada em 2ª lugar no concurso literaio da cidade de Paragominas no estado do Pará