Maria do Sofrimento o diálogo doente (sem palavras)

Mulheres! que história é esta de Lei Maria da Penha? o que é que vocês estão pensando?quem paga a luz da minha casa sou eu, quem faz a feira paga água, luz e telefone inclusive o gaz, ainda tem o colégio dos meninos também sou! tudo bem que o dinheiro é dela, mas se eu não fizesse as contas direito esta casa estaria uma zorra! pois com certeza o que ela ganha seria usado em supérfluos, como roupas coloridas, sapatos de propaganda, perfumes e maquiagens, coisas que mulher casada não precisa.Ora essa!Mulher de respeito precisa é cuidar do marido dos filhos e da casa,cheirosinha e maquiada é quenga, se eu quiser mulher assim vou na zona!mulher minha não vai servir de cobiça para Ricardão de jeito nenhum!vai usar o que eu quero,e vai somente onde eu achar que deve.Surgiu aí uma tal de UPM( União Popular de Mulheres) fazendo discurso para a mulher gritar dentro de casa, separar quando apanhar, denunciar o marido que é pai dos filhos dela, e uma tal de secretaria especial de Políticas para Mulheres vem também enfileirar estas vagabundas e querer mandar no homem, manda viu!? mandou que eu vi! na minha casa eu rasgo a constituição, eu desecato autoridade e enfio a mão na cara a hora que eu bem entender, no meu território fêmea cumpre ordens!! meu pai sempre bateu na minha mãe, e olha que era todos os dias, a velha ficou cega de um olho por culpa de uma panelada que levou, o velho achou que o frango estava mal cozido e não deu outra, pedaços se misturaram a sangue e nós sem podermos enfrentar por causa da força, só corriamos. E com tudo isto não tinha ninguém sem o que fazer para entrar onde não era chamado! apitaço, ligar para 180,190 isto era problema de família.Eu bato mesmo, sou igual meu pai! cresci assim e não mudo! e se vier feminista de merda entrar no meu caminho lhe enfio a faca na barriga! para quem não sabe são dez anos de casados, tivemos dez filhos, nunca consegui trabalhar primeiro por que emprego não está fácil, eu não tenho estudos e trabalhar de Servente de Pedreiros ou Gari não quero mesmo! outra coisa, o tanto que a gente vê na televisão de empregada espancando crianças, eu achei até melhor passar meus dias alí, olhando a moça de perto, até no banheiro eu procuro dar umas espiadinhas, mas nada de falta de respeito é apenas para ver se esconde alguma coisa embaixo das roupas. Minha mulher sempre trabalhou, não tenho pena nenhuma se ganha pouco, pois é até estudada fez faculdade de Professora e dá aula. Se tem uma coisa que me irrita é nos finais de semana! ela vai trabalhar como Manicure para comprar o frango e outras frescuras de almoço de domingo, e na hora do futebol da tarde vem se queixar de dores nas costas, por ter passado muito tempo sentada, ora, se foi sentada faça as unhas de pé! mas deixe-me usufruir do meu direito de torcedor!.Que saco pô!

Este relato está no prontuário do paciente detento José Nantenor, que cumpre prisão hospitalar há dois anos em Hospital Psiquiatrico, há quatro foi condenado por homicidio qualificado. O relato que descrevo foi gravado pela polícia e consta nos autos da condenação. Nestes dois ultimos anos de internação repete exaustivamente sem desviar uma só palavra da sua doentia trajetória. O seu crime foi cometido contra a senhora Maria do Sofrimento sua esposa, que na plenitude dos seus 39 anos de idade mas a dolorosa aparência superior, se entregou ao cuidado dos seus dez filhos e do marido que nunca a teve como mulher, e sim, um objeto descartável sem sentimento algum. No dia em que completavam os dez fatídicos anos de matrimônio, Maria se atrasou devido uma quebra do Onibus qua a conduzia, de 19 hs passou as 20:30 hs, de pés apressados e coração medonho mas nutrindo esperanças, que aquele fosse um dia diferente chegou ofegante em casa. E foi diferente dos outros dias, Maria não teve oportunidade de argumentar, de posse da faca que sempre foi mostrada a ela como o instrumento da sua derrocada final, o marido desferiu diversos golpes contra a mulher que pedia pelo amor de Deus, e vociferava o nome dos filhos, clamou piedade até não ter mais forças de pedir, e caiu sem vida. A enxurrada de sangue se misturou a alguns iogurtes, bolachas e leite que literalmente mostraram, que aquele alimento vinha das suas veias. O que chocou os peritos causando lágrimas e comoção foi um cartão de feliz aniversário que estava na sua bolsa, era o aniversário do casamento que ela se lembrou e escreveu assim :

"Meu querido marido, nestes dez anos foram muitas dificuldades, você com seu jeito "especial" de gostar de min e eu tentando viver por você e pela nossa família, te confesso que sofro muito, mas acredito que você irá mudar, que Deus em algum momento tocará seu coração e lhe fará enxergar tudo que faço. Parabéns para nós dois,nesta data que considero tão importante e saiba que apesar de tudo, ainda te amo muito."