Salvador, uma festa...
Sabe aquela sensação de se estar num lugar que não é o seu, mas mesmo assim se sentir em casa? Quando tudo nesse mesmo lugar parece familiar demais, íntimo demais? Quando os rostos, os falares, o aparente jeito de ser e viver são expressões da sua própria expressão?
Pois assim é minha relação com a cidade de Salvador, desde que nela estive, pela primeira vez, no inicio de 1983. Mas bem antes, menina ainda, conheci Salvador através do olhar encantado de Jorge Amado. Aliás, não só me apresentou uma Salvador cheia de encantos, como também os mistérios de uma Bahia mística, exalando música, sensualidade e beleza em cada recanto, o que me fez desejar muito conhecê-la.
Anos mais tarde, Antonio Torres, outro autor baiano, através do seu excelente “Essa Terra”, me apresentou mais uma faceta dessa mesma Bahia de contradições e contrastes, contudo, bela e única no jeito de reinventar-se cotidianamente.
Coincidência ou sincronicidade, casei-me com um baiano e a nossa casa alagoana é um pedacinho da Bahia. E, por empatia absoluta ou paixão que não se explica, vivo também um caso de amor com aquela cidade. Gosto de estar, subir e descer suas ladeiras e sempre fico encantada com o azul do seu mar, com o cheiro e tempero de sua comida, com a luminosidade, com a alegria e a musicalidade do seu povo.
Sou um ser coletivo, mas, vez ou outra, me faz bem sair sozinha, caminhar pelas ruas, sentir a cidade pulsando. No Pelourinho ou na orla, no Bonfim ou na Avenida Sete, sempre há uma possibilidade de descobrir lugares interessantes - loja, livraria, restaurante - e me faz pensar no quanto vale a pena estar lá.
Nem sei se “nessa cidade todo mundo é d’Oxum”, mas sei que tudo respira vida e nem preciso dizer que nem sempre é fácil, bela ou aprazível. Sei dos problemas, dos contrastes, mas isso a transforma, aos meus olhos, real, especial, quase humana, o que me faz gostar mais desse lugar cheio de história e vida.
Nessa última visita, encerrei minhas férias com o carnaval. E entre uma folia e outra, reencontrei parentes, amigos queridos e ainda tive tempo de conhecer Miriam de Sales Oliveira, amiga recantista.
Miriam é uma energia viva. Simpática, bem humorada e com um jeito todo especial de contar histórias da Velha Bahia. Adorei nossa conversa entremeada com o melhor da culinária baiana, na Perini da Graça, um de seus lugares favoritos e, gentileza das gentilezas, me presenteou com uma das suas produções, que li emocionada. A carta a seu pai me arrancou lágrimas, tão bela é essa declaração de amor e respeito a um ser tão especial em sua vida.
Tudo isso para dizer que estou de volta a minha vida de sempre, feliz, de baterias recarregadas para mais um ano de muito trabalho, sempre disposta a novas viagens, mas certamente que parte da minha alma estará sempre na Bahia.
E se “...todo dia é festa em Salvador ”? É. A vida é uma festa.
*Da série Lugares e Momentos inesquecíveis!