Arquitetura eCortiço

Arquitetura e o Cortiço

Mesmo sentindo às vezes vontade de sumir não assistir noticiários, por tanta noticia de guerras estúpidas e insanas, violência contra mulher, idosos e crianças, chuvas, enchentes e desabrigados uma tragédia quase sempre anunciada, a crise da especulação financeira do capitalismo apesar de tão anunciada e esperada cai como uma bomba no nosso cotidiano aprofundando ainda mais as desigualdades.

Mesmo assim aceito o desafio da minha sede de informações, respiro fundo ligo a TV me preparo, alguns meses atrás fui surpreendida com uma noticia sobre uma ação criativa, solidária e humana de um grupo de formandos de arquitetura, não lembro que universidade de São Paulo, eles se juntam aos moradores ou invasores como as autoridades costuma rotulá-los, de um cortiço em um prédio público abandonado para um projeto de restauração economicamente viável e adaptável as condições já existentes.

Comunidade que é formada por adultos, crianças, idosos, seres humanos que aprenderam não só dividir um banho com dez ou quinze pessoas, mas a importância de dividir as dores, as experiências, os erros e acertos, alegrias, sonhos e a luta pelos seus direitos, mães, pais e avós que sonham para suas crianças um futuro diferente para que não fiquem expostas as desigualdades históricas e recorrentes de suas vidas.

Esses alunos contrariando e desafiando a orientação de alguns centros educacionais, cuja preocupação primordial é formar técnicos capazes de atenderem o mercado e ter sucesso financeiro rápido, lança um olhar problematizador, questionador, humano e democrático para essa comunidade.

O processo inicial é composto por um cenário de relações de respeito, confiança, de sociabilidade e amizade, pois é preciso que todos participem para definirem as prioridades, necessidades de cada família, o aproveitamento do pouco espaço e como angariar recursos enfim, como se mobilizarem para a realização do projeto que tem como objetivo mostrar para a sociedade uma alternativa viável de qualidade de vida digna para essas pessoas.

Com certeza esses jovens arquitetos com este olhar se sentiram mais cidadãos e mais presentes no mundo contemporâneo.

Dias depois novamente sou surpreendida com outra noticia que nos enche de esperanças, no Rio de Janeiro um formando de engenharia ambiental faz de sua tese de doutorado um projeto orgânico para a comunidade de uma favela, e consegue levar a banca examinadora, os professores e pesquisadores para que o julguem à céu aberto junto à comunidade. Nota 10!

Tomara que todos os jovens, futuros profissionais em todas as áreas, as universidades, orientadores, professores e pesquisadores conduzam as teses de doutorado para um compromisso ético e político, onde os formandos disponham de seus conhecimentos, pesquisas e de seu processo produtivo para a solução das mazelas do nosso povo.

Só assim poderemos honrar os grandes pensadores discutindo suas obras de forma viva e relevante, transformar educando é a forma de reaprender a ver o mundo.

Maria Madalena