Agora sim, feliz 2009
Incrível como a máxima colocada como título para esse artigo é verdade. Realmente na nossa encantada ilha da fantasia (e agora, frente à crise mundial, ilha de prosperidade) no Brasil o ano novo só começou depois do carnaval.
Falo com a evidência de quem observou o mercado se retrair, comprimir e depois, passados desfiles de escolas de sambas (mais pobre em recursos, agora sem financiamento do jogo do bicho), bailes de gala, praias e praças lotadas pela fuzarca geral, começa a trabalhar e produzir.
É uma cultura que deve ser esquecida pelo brasileiro, assim como a clássica lei de Gerson. Pra quem é muito novo, ou não sabe do que falo, faço a questão de explicar: 1970, Brasil tri-campeão mundial. Gérson, então capitão da seleção brasileira, aparece em um anúncio do presto barba da Gillette, dizendo, com todas as letras, que o importante na vida é tirar vantagem. Pode-se imaginar o impacto de tal afirmação no consciente coletivo brasileiro nas décadas seguintes. O típico brasileiro, a pelo menos bem pouco tempo atrás, é um malandro que adora passar a perna em quem quer que seja para ganhar nem que seja um troquinho. O jeitinho brasileiro foi multiplicado, em escala exponencial, por nosso querido capitão metido a garotão, Gérson.
Carecemos de heróis verdadeiros, de revolucionários de verdade, e não de simples filósofos de botequim, pseudamente indignados com a atual situação brasileira. Se por um lado nos beneficiamos com o conjunto de políticas econômicas e sociais implementadas pelo nosso governo nos últimos anos, por outro lado temos uma cultura fortemente enraizada do lucro fácil, do não estudar e sim trabalhar, do levar vantagem em tudo, da gambiarra.
Triste saber que adoramos um feriado, que adoramos um carnaval, uma praia, uma boca livre e o futebol de domingo, mas nos negamos a trabalhar mais tempo pra tentar melhorar de vida, que nos recusamos a realmente lutar por nossos direitos como cidadão, a realmente se indignar com a situação precária do ensino, da saúde e da segurança pública. Não é que não tem jeito, quando queremos realmente conseguimos dá um jeito. A opinião pública é manipulada e distorcida, de comum acordo com os grupos dominantes da televisão e mídia existente em nosso país. Pode parecer lugar comum e discurso antigo falar sobre isso, mas não é. Estamos tão ou mais influenciados como antes.
É fácil perceber raízes desse problema. Com a falta de educação, não conseguimos em nossa população seres críticos. Sem sermos seres críticos, ficamos mais passíveis a aceitar tudo que nos é dito de forma manipulada, disfarçada como verdade. Alguém pode argumentar que nunca tivemos tantos alunos matriculados no país. Mais uma vez concordo, mas com um agravante pior. Nosso ensino é precário, estamos na sala de aula, mas não aprendemos nada, ou aprendemos de forma atrasada, ainda baseado nos preceitos de Paulo Freire, atrasadíssimo em relação a nossa atual conjuntura. O governo se preocupa mais com a formação dos professores universitários do que com os do ensino básico, onde deveria ser o contrário, pois a base se aprende no começo.
Com tantas festas, feriados, carnaval, carnaval fora de época, imprensados, resta pouco tempo pra se basear no que realmente importa. Um exemplo de que a lei e a educação, quando bem aplicados, podem mudar nossa realidade se traduziu recentemente. Foi registrado um decréscimo de 33% nos índices de acidentes fatais no estado do Ceará, no período tipo como o mais violento do ano (carnaval). A punição rigorosa para quem se encontra bebendo e dirigindo deu certo, foi uma lei que “pegou”. Sinal de que precisamos de leis mais fortes, de um nível crítico maior, uma educação maior. É assim em todo país dito civilizado e de primeiro mundo ao redor do globo.
Deveríamos tomar tais resultados e exemplos que deram certo para tentarmos mudar e definitivamente ingressarmos no rol dos países sérios. Seria um excelente momento, tendo em vista a reestruturação mundial em progresso. Só que parece ser mais fácil permanecer roubando e alienando, deixando todos levarem vantagem em tostões sem real valor, enquanto poucos dominam, manipulam e roubam milhões, graças a ignorância e pouca criticidade alheia.