GESTOS E PALAVRAS

Naquele fim de tarde eu passeava pelos desertos corredores da escola à procura de algo que não sei ao certo dizer o que era, porém algo que pudesse inspirar-me alguns versos ou quem sabe uma crônica.

Nada de estranho, de extraordinário, de fantástico ocorria. Nada que pudesse chamar-me a atenção e dispersar-me dos meus pensamentos.

Somente o silêncio se ouvia. Um silêncio assustador, tenebroso, entediante...

Nem sequer uma alma penada além da minha perambulava pelos arredores. Nem sequer os indesejáveis e insuportáveis pernilongos de verão para incomodar-me!... Nem unzinho sequer para desentediar aquele crepúsculo monótono!

Quando meus passos cadenciados levavam-me de volta à sala dos professores, ouvi lá ao longe, no final do corredor, alguns burburinhos seguidos de risos pueris. Dei meia-volta e fui ao encontro daqueles murmúrios.

Sem ser percebido, aproximei-me da sala e avistei o pequeno grupo de alunos que, aproveitando-se da ausência da professora, rompera aquele fúnebre silêncio.

Curioso e sorrateiramente, me dirigi até a janela e me pus a ouvir o que diziam, a observar o que faziam, a interpretar o que acontecia...

Sem notarem que estavam sendo observados, os meninos gastavam seu repertório de vocábulos tipicamente adultos, os quais vinham seguidos de gestos nada inocentes para a idade daqueles jovens “conferencistas”.

Falavam e gesticulavam como se fossem profundos conhecedores do assunto. Gesticulavam e falavam como se, precocemente, estivessem pulado as etapas da natureza humana que ficam entre a pré-adolescência e a fase adulta.

Autorizo-me a dizer somente sobre qual tema eles debatiam: MULHERES; porém reproduzir aqui o que diziam não posso, pois para alguns leitores tornar-se-á imprópria tal reprodução uma vez que as palavras proferidas por aqueles precoces “adultos” eram mais horripilantes que o silêncio que por eles fora quebrado.