Por um momento
Leila parou e pensou "Não sei se devo". Olhou em volta e não viu o real, viu o seu mundo e seus personagens. Passou a mão pelos cabelos e sentiu que um filete de suor descia pela face.
"E depois?" continuou.
Pensou em Carlos. "Babaca!". O marido. Que não dava mais a atenção devida. Que não prestava a atenção em nada. Que não era mais o namorado maravilhoso que um dia, há 10 anos, surgiu numa tarde de verão, na praia "Leblon".
Pensou e percebeu que sorria. "Não" Não podia voltar. Era uma decisão tomada. Sacramentada. Há muito tentava conversar, falar, acertar, mas Carlos não correspondia. Falta-lhe algo. "Atenção" respondeu.
Até que conheceu Villas. Transferido da filial São Paulo. Moreno, alto, olhos castanhos, másculo e um sorriso cativante. Logo depois da primeira reunião de trabalho, um entrosamento aconteceu. As conversas tornaram-se diárias. No almoço. No café. Até que a atração foi descortinada. "Estou a fim". Mas como? "E minha vida?"; "Meu marido?", "Meus filhos?". Porém...ficou a fim.
Agora estava alí. Local de encontro. Seria um jantar..."E depois?" "Que tal um momento de carinho?" sentiu a pergunta.
Já não estava tão decidida.
Algumas lembranças que há muito não aconteciam passou como um filme: As noites em claro que Carlos passou no hospital, por ocasião da pneumonia que quase a matou; O sorriso dele nas noites de Natal com àquele gorro de Papai Noel "Ridículo" sorriu; lembrou-se também das noites em que acordava com Carlos passando a mão carinhosamente no seu rosto.
Percebeu as lágrimas brotarem em seus olhos. Fez sinal para um táxi. Entrou no veículo e disse com determinação "Quero ir pra casa". Viu quando o carro de Villas estacionava.
Sentiu um aperto no peito. "Por que não?" refletiu.
"Porque amo" respondeu com um sorriso.