HARMONIA
Pela posição do sol deve ser meio-dia. Um dia luminoso. Todas as plantas e a mata estão no máximo dos seus verdes e vidas. O sol está forte pelo céu limpo da serra, mas está um frescor no ar, de carioca não acreditar. Ontem á noite estava absurdamente até um friozinho ao redor. A casa limpíssima, encerada, vidros limpos nas janelas, um capricho feito pelas Meninas, que até já as desenhei e fiz um texto no Recanto. Roupas lavadas e passadas, camas feitas. Um capricho!
Eu que subira contra minha vontade, apenas pelo bom senso dos quarenta graus do Rio, me deliciei estar aqui com o corpo nesta temperatura confortável e o puro ar respirado.
Notei que minha filha trouxera muitas roupas para equipar a casa para hóspedes. E meu filho, contrafeito, acabou se rendendo ao prazer que a casa proporcionou neste clima ideal.
Dormi maravilhosamente, sonhando e saboreando muitos chocolates e outras delícias: muitos parentes queridos do passado, vivos e presentes, com comidas maravilhosas e frutas e alegrias. Tudo prazeroso.
Foi bom ter vindo.
Mas a coisa linda que aconteceu foi a tulipa negra. As Meninas anunciaram que os vasos que plantáramos os bulbos de tulipas estavam brotando. Fomos todos lá fora na varanda para ver o que não podia acreditar. Tanto meus filhos quanto elas estavam encantadas também, e fui ver os vasos que, na semana anterior, plantáramos um bulbo em casa vaso e sem rega, só tentando salvá-los, confiando no clima ameno que é na sombra.
Alguns, vários estavam com brotos verdes, e um tinha um broto forte, largo e verdão gritando sua força e já com uns dez centímetros de altura.
Peguei o vaso nas mãos e, todos juntos, comecei a falar daquela maravilha da força da Natureza, da vida, de Deus!
E para as Meninas contei o caso do NÓ MAL FEITO, um milagre da Natureza, de Deus.
Há trinta anos passados eu fora ao médico por suspeita de um mioma no útero. Já tivera uma cirurgia de urgência por gravidez tubária e sofrera ficando com apenas uma trompa, achando que não poderia ter mais filhos, eu que sonhara ter dez, como bonecas. Mas, tratada, vim a ter duas filhas nascidas por cesarianas. Ocasião em que o médico, meu querido Dr. Volf sentenciou que ia cortar a única trompa restante, pois não eram recomendáveis outras cirurgias.
Os sintomas estranhos me levaram de volta ao médico. Ele suspeitou de mioma mesmo e mandou fazer exames, radiografias, etc.
Sávio, meu marido, um homem calado, de poucas palavras, antes que nos retirássemos, abriu a boca: ”mas Volf isto está parecendo sintomas de gravidez...”
Volf me mandou voltar à mesa, deitei, e ele auscultou a barriga e, nós três, abismados ouvimos o TUM_TUM DO CORAÇÃO do meu filho: eu estava grávida de uma trompa que a natureza criou talvez pelos tecidos cicatrizados. Deus me deu este presente! E isto estava contando e comecei a chorar emocionadamente com a lembrança dessa bondade e milagre de Deus; fui tomada de enorme emoção nessa narrativa, e todos se entreolhavam na varanda, não vendo motivo para tanto.
Nesta troca de olhares e busca de entendimento, falaram juntos
“O BROTO DA TULIPA NEGRA!”
Caí em mim, era isto mesmo, uma associação de milagres de Deus!
Meu irmão médico Miguel carinhosamente chamava meu filho de Nó Mal Feito.