NÓS, POETAS
Foi Jean-Jacques Rousseau, quem disse: “o homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado”. É que somos amarrados pelos nós sociais, somos presos aos mandos e desmandos de regras nem sempre necessárias, conceitos e preconceitos nem sempre plausíveis, dogmas e paradigmas nem sempre explicáveis. Nós! Rousseau disse que a sociedade havia pervertido o homem natural, o “nobre selvagem”. Lume do iluminismo! Por ser poeta, ouso o que ouço. Para odiar os nós sociais, ouso parodiar o filósofo: o homem nasce poeta, e em sua maturidade, acorrenta-se nos próprios nós que criou.
Quando era criança, parecia ter a exata noção da realidade. Calculava a distância entre a Terra e o Sol, lançava-me em foguetes espaciais acionando mil botões, conversava com marcianos. Cavava buracos no chão até chegar ao Japão, dirigia tratores e caminhões, comandava tropas de soldadinhos de chumbo. Saltava de uma montanha a outra, erguia uma escada até a lua e conquistava o coração da princesa mais bela do planeta.
Um dia, ao acordar adulto, descobri que toda criança é também poeta. Audaz poeta. Constatei que, quando crescemos, deixamos de lado as grandes realizações, e passamos a viver num mundo “de mentirinha”, em que o faz-de-conta, agora, é pra valer: pra valer dinheiro, pra valer poder, pra valer tudo o que as vaidades, sucessoras das fantasias, nos obrigam imperiosamente. É aí que deixamos de ser poetas. Então começamos com a mania de sonhar apenas coisas possíveis, a usar a serenidade e a sensatez como pretextos para jamais sonharmos com o inatingível, para jamais tentarmos as utopias. Começamos a justificar inércias, omissões e comodismos com o fato de agora sermos adultos. É aí que deixamos de ser audazes.
Mas que criança atrevida! Costumam dizer os adultos. Pleonasmo. Toda criança tem o atrevimento que deveríamos ter para romper com lugares-comuns, para tentar algo diferente do padrão ancestralmente aceito. Todo inventor, descobridor, desbravador, pioneiro, foi criança-poeta, audaz-poeta, nas suas aventuras, na sua engenhosidade, no seu atrevimento, no seu sonho inventivo. Quando poetisamos, desnudamo-nos da carapuça da maturidade, do medo, do não-sou-capaz, e versejamos fantasias e sonhos ousados.
Perdoe-me Platão, mas penso que o mundo ideal está contido nos poemas. Então conclamo: Poetas! Invadamos a Polis! Expulsemos de lá o Platão, e o condenemos ao degredo no exílio da cópia infiel dos versos – o velho mundo de sempre! Vamos semear poesias, escrever poesias e agir poesias! Abaixo os nós que tolhem-nos idéias e ideais, ânsias e esperanças! Vivamos em poesia, sob pena de vivermos mortos e de apodrecermos antes do amadurecimento.
Por viver poeta e agir poeta, ouso tudo o que ouço. Guevara disse: “há que endurecer, sem jamais perder a ternura” e eu, para odiar os corações endurecidos, ouso parodiá-lo dizendo: há que amadurecer, sem jamais perder a poesia...
Foi Jean-Jacques Rousseau, quem disse: “o homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado”. É que somos amarrados pelos nós sociais, somos presos aos mandos e desmandos de regras nem sempre necessárias, conceitos e preconceitos nem sempre plausíveis, dogmas e paradigmas nem sempre explicáveis. Nós! Rousseau disse que a sociedade havia pervertido o homem natural, o “nobre selvagem”. Lume do iluminismo! Por ser poeta, ouso o que ouço. Para odiar os nós sociais, ouso parodiar o filósofo: o homem nasce poeta, e em sua maturidade, acorrenta-se nos próprios nós que criou.
Quando era criança, parecia ter a exata noção da realidade. Calculava a distância entre a Terra e o Sol, lançava-me em foguetes espaciais acionando mil botões, conversava com marcianos. Cavava buracos no chão até chegar ao Japão, dirigia tratores e caminhões, comandava tropas de soldadinhos de chumbo. Saltava de uma montanha a outra, erguia uma escada até a lua e conquistava o coração da princesa mais bela do planeta.
Um dia, ao acordar adulto, descobri que toda criança é também poeta. Audaz poeta. Constatei que, quando crescemos, deixamos de lado as grandes realizações, e passamos a viver num mundo “de mentirinha”, em que o faz-de-conta, agora, é pra valer: pra valer dinheiro, pra valer poder, pra valer tudo o que as vaidades, sucessoras das fantasias, nos obrigam imperiosamente. É aí que deixamos de ser poetas. Então começamos com a mania de sonhar apenas coisas possíveis, a usar a serenidade e a sensatez como pretextos para jamais sonharmos com o inatingível, para jamais tentarmos as utopias. Começamos a justificar inércias, omissões e comodismos com o fato de agora sermos adultos. É aí que deixamos de ser audazes.
Mas que criança atrevida! Costumam dizer os adultos. Pleonasmo. Toda criança tem o atrevimento que deveríamos ter para romper com lugares-comuns, para tentar algo diferente do padrão ancestralmente aceito. Todo inventor, descobridor, desbravador, pioneiro, foi criança-poeta, audaz-poeta, nas suas aventuras, na sua engenhosidade, no seu atrevimento, no seu sonho inventivo. Quando poetisamos, desnudamo-nos da carapuça da maturidade, do medo, do não-sou-capaz, e versejamos fantasias e sonhos ousados.
Perdoe-me Platão, mas penso que o mundo ideal está contido nos poemas. Então conclamo: Poetas! Invadamos a Polis! Expulsemos de lá o Platão, e o condenemos ao degredo no exílio da cópia infiel dos versos – o velho mundo de sempre! Vamos semear poesias, escrever poesias e agir poesias! Abaixo os nós que tolhem-nos idéias e ideais, ânsias e esperanças! Vivamos em poesia, sob pena de vivermos mortos e de apodrecermos antes do amadurecimento.
Por viver poeta e agir poeta, ouso tudo o que ouço. Guevara disse: “há que endurecer, sem jamais perder a ternura” e eu, para odiar os corações endurecidos, ouso parodiá-lo dizendo: há que amadurecer, sem jamais perder a poesia...