Dormir de touca

Quando eu era criança, as meninas andavam de franjinha e algumas com duas tranças. Marias-chiquinhas também eram comuns, sempre amarradas com fitas coloridas. Lacinhos no alto da cabeça ou um de cada lado faziam parte do penteado infantil.

Mais tarde, quando os filmes americanos lançaram o rabo-de-cavalo, jovens do mundo inteiro passaram a ostentá-lo e balançavam a cabeça com orgulho, jogando-o de um lado para o outro. Quem tinha cabelo crespo não conseguia o mesmo efeito. Era o meu caso.

Morrendo de inveja dessas moças, fiquei feliz ao descobrir produtos para alisamento. Submeti-me a suplícios e deu resultado. Mudei de cara, satisfeita.

Minha alegria, porém, durou pouco. De repente, fios vermelhos começaram a brilhar em meu cocuruto. Logo, logo, ia ficar igual à boneca Emília. Mas o que me fez abandonar definitivamente a empreitada é que certa vez, ao lavar a cabeça, um chumaço caiu em minhas mãos. Fiquei apavorada.

Voltei à cabeleira original. Só uma vez ou outra tinha recaída: quando queria me apresentar melhor numa festa. Usava, então, o ferro de passar roupa...

Um dia apareceu uma novidade e eu embarquei nela: a touca. Fácil de aplicar, sem efeitos colaterais. Era só escovar os cabelos para um lado e prender com a touca de meia. Da noite para o dia mudava-se o visual. Dormir de touca passou a significar para mim algo positivo.

Nem preciso dizer que ficava horrorosa com aquilo na cabeça e inspirava as mais diversas piadinhas de meus irmãos. Entre elas, diziam que se um ladrão entrasse em casa, assim que me visse fugiria feito louco.

Isso, quando não se referiam explicitamente ao espantalho...