ilegais

Em cada quarto havia um menino encapsulado, como em cada cesta um pedaço da vida. Mas o homem gorducho da pensão divertia-se a esconder de um lado o pão, de um lado o toucinho. As sextas um novo cambio e nenhum dos presentes a acreditar uma mão lavada e outra cheia de graxa.

-Este homem é um porco

-Um porco e não tem remédio!

-Sim! – disse um terceiro cavalheiro, mas dos meninos não se ocupa ninguém. Eles estão deitados detrás duma humilde mesa descoberta, sem toalha, sem migalhas e de uma altura que custa acreditar para uma simples criança levar um bocado a boca. Desde a janela deste andar ao lado se podem observar as sombras dos mais déveis.

-Tudo esta estudado e tudo feito será a maneira antiga. Respeitando a tradição... Disse o professor. Mas o professor é um homem que nunca se incomoda, comam os cativos ou não. Ele deve ser mesmo bonzinho.

-A miúdo as pessoas mudam de conversa, e começam e recomeçam uma serie de discursos hilariantes que nada tem a ver com a nossa realidade.

- Querido doutor, mesmo que não lhe interessem as nossas miudezas, bem podia o senhor poupar-nos a tais comentários! Diz o professor e todo a redor cala de inerte.

A vida tem ocasiões e foi essa para os rapazes se adejar lenta e suavemente pela saída lateral com um letreiro pendurado, em verde pistácia, a si mesmo a se ler: “Os sonhos fazem homens, os homens decidem seus sonhos”.

Nunca tiveram lido tal cartaz e se fossem obrigados a fazê-lo compreender não iam jamais a voluptuosas palavras.

Enfiaram por uma estreita escada, arredonda e fingindo de saber-se de cor as cores do mundo livre, as cores do arco da velha, ou do velho que se sentou com a cana na maré a um peixinho carnudo a esperar, mas não tao diminuto.

No final um fecho de madeira, incompressível verdade? Mas mesmo!... Ainda vinham os miudinhos a resmungar a sonoridade incomprensível e oca da nobre legenda, quando de rompante uma saída, bela e na certa ocasião que ninguém imagina ter a espera.

-E agora?

Agora é a liberdade, deveria algum dizer, mas mesmo os mais ousados tiveram um remorso de olfato e confusão, de um aquele como: que imos fazer ai fora, e a continuação pequenas inquietudes, um medo a ressurgir e sons de passos que se achegam e nunca nos deixar gemer:

- Ou agora ou nunca!

Não fugiram... Alguém escutou algum dizer que os sons do medo paralisam antes, que a necessidade de saber como agir contra necessidade.

A 25 de Julho de 2006, às 22.31 da noite, um comando policial com ordem judicial, abriu a mesma porta que os garotos não se atreveram atravessar, dentro, acima no segundo andar: uma oficina a chorar sacos isolados, troços de retal deitados a intempérie, como uma maquina diminuta ocultando-se com sumo prazer atrás das mãozinhas duma vitima. E aquele enxame perfeitamente arquitetado. Com celas de madeira escalando ate asfixiar três das quatro paredes, com escadeiras para temperar relações laboráveis, e horas e horas por diante para trabalhar, cada inocente sobre sua obra: um pequeno tecido abordar, que em noutros locais se ajuntam a centos de outros; num continuo repenicar de batuque sobre batuque.

Os olhos deles devorados, as pernas decaídas na mesma posição de submissão a um destino fabricado para nós, pelos donos das ânsias, das poucas que restam.

Era 25 de Julho, dia nacional. Abriram-se mais três garagens, o mesmo modo de operar, e os cativos sem poder contestar aquele oficial, sem o auxilio dum interprete.

-Dizem que vieram por própria vontade.

Arquivou-se o caso por vários dias. Na procura de testemunhas dize a florista ao passar, que foram aqueles parasitas da pensão de em frente que uma tarde se lhes deu por imaginar que as sombras os comeriam.

-Comigo não vai esse assunto! Dizem dissera o dono da pensão, quando o primeiro desempregado achegou-se para lhe perguntar se poderia chamar a policia.

O jovem amante da cabeleireira, um sorriso disfarçou abraçado a cama e ao reascendo que deitou sua vizinha bem perfumada

- Mesmo estavam aqui a dois metros!...

Ela riu-se como fazia quando as coisas tampouco iam muito com ela.