Tive que dar aulas de sutiã

Convivendo com estrangeiros a gente descobre cada coisa, né? Depois de anos no meio dos franceses, comecei a perceber que todo mundo falava muito em soutien. Não só as mulheres, os homens também. Era soutien pra lá, soutien pra cá...

Com a cara mais lavada do mundo, pais de alunos me procuravam para falar deste assunto. Até marcavam rendez-vous comigo, imaginem! Eu tentava escapar, não é nada agradável conversar sobre isso. Ainda mais no colégio, sentada diante de senhores em terno e gravata. E principalmente quando se tratava de menino bonzinho, quietinho, mas que precisava de soutien...

Afinal, com tanta gente querendo soutien para os filhos, foi preciso classificar as crianças. Algumas precisavam mais, outras menos. Como distribuir o soutien? Não podíamos separar os meninos das meninas... Para que ninguém ficasse vexado, tinha que ser em ocasiões extraordinárias.

Ficou decidido, então, que nas tardes de quarta-feira – dia em que as aulas terminavam mais cedo – quem quisesse podia ficar na escola para usufruir do tal soutien.

Foi assim que passei a dar aulas, também eu, de soutien.

... Quer dizer, de reforço.